Apesar das pressões para cancelar a sua participação, o conhecido linguista Noam Chomsky juntou-se, via ligação remota, a Gary Marcus, cientista da área de Inteligência Artificial (IA) na Universidade de Nova Iorque (NYU), para uma conversa sobre por que motivo é que os mitos em torno da IA são tão perigosos no palco central do Web Summit 2022.

O “hype” em torno do mundo da IA e do seu potencial continua a ser amplamente divulgado, mas, olhando pela lente da linguística, Noam Chomsky expressa as suas preocupações em torno daquilo que modelos de IA como o GPT-3 da OpenAI são capazes de produzir e do poder que estes têm.

Segundo o linguista, mesmo se este sistema for alimentado com uma base de dados que contenha uma “linguagem impossível”, que não obedeça às regras das linguagens como as conhecemos, o mesmo continuará a funcionar como programado. Noam Chomsky questiona inclusive se um sistema de IA não é capaz de distinguir o mundo real de um que não existe, a ciência produzida por ele é, de facto, válida?

Já Gary Marcus detalha que, enquanto nós humanos damos um significado especifico à linguagem, os sistemas de IA não são capazes de tal proeza. Para o cientista é preciso olhar para a questão da produção de conhecimento por parte de sistemas ou modelos de IA num panorama mais abrangente, sem esquecer as consequências que podem surgir.

“Estamos a seguir o caminho errado para a IA”, defende Gary Marcus, acrescentando que, embora pareça que estamos num momento onde temos algo que está a funcionar bem, isto não é realmente o que precisamos.

O cientista explica que os sistemas atuais estão, por exemplo, a perpetuar dados e biases antigos, acabando por produzir desinformação, numa situação que pode ter "consequências devastadoras" para a democracia.

Aliás, Gary Marcus prevê mesmo que em 2023 aconteça a primeira morte causada por informação gerada por um sistema de IA. “As pessoas acreditam nestas coisas porque parecem credíveis”, realça. 

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