Enquanto empresa, a BHOUT nasceu em 2019, mas a ideia de Mauro Frota e de Pedro Barata em conjugar teoria da autodeterminação, game design e paixão pelas artes marciais surgiu vários anos antes. A “mistura” ganhou corpo num saco de boxe inteligente envolvido em todo um conceito para cativar, principalmente, quem não gosta de fazer exercício.
Como típica startup que são, primeiro começaram numa garagem a desenhar protótipos e a testar. Numa segunda fase avançaram com um projeto piloto num ginásio conceituado e entretanto decidiram partir para voos maiores. Em plena pandemia.
Estourar cartões de crédito e fazer segundas hipotecas foram riscos que acabaram por ser compensados, apesar dos sustos com a dificuldade em arranjar fornecedores para produzir alguns dos componentes dos Bhout Bags ou com os atrasos nas entregas. Isto porque o padrão de consumo do exercício físico mudou.
“Com a pandemia, as pessoas deixaram de estar tão direcionadas para os grandes ginásios indiferenciados e passaram a estar muito mais atentas áquilo que tínhamos desenvolvido como conceito”, sublinhou Mauro Frota em entrevista ao SAPO TEK. E foi assim que o conceito tomou forma no BHOUT Club Avenida de Roma.
Um saco de boxe transformado numa espécie de PlayStation em que o corpo é o comando
O único clube BHOUT existente de momento funciona em 200 metros quadrados “muito bem rentabilizados” com os seus mais de 700 clientes ativos. “Por metro quadrado, até onde sabemos, é o espaço fitness mais rentável em Portugal”, apontou Mauro Frota. E com alta taxa de permanência, acrescentou.
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E é no mesmo sentido que vão os 19 novos clubes que a BHOUT pretende abrir até ao final do ano: mais sete próprios para juntar ao já existente e 12 em regime de franchising, um plano que o cofundador e CEO reconhece ser ambicioso, mas está otimista em cumprir.
Veja como funciona o conceito
Além das instalações com algumas características diferentes do que costuma ser habitual, como os balneários individuais, no centro de tudo estão os sacos de boxe inteligentes. Com quatro patentes de invenção pedidas, a equipa desenvolveu um saco de várias camadas de espuma de média e alta densidade em que o interior é agua.
“A ideia base é que os BHOUT Bags tenham um feeling semelhante a bater em alguma coisa orgânica, e não ao que acontece quando se bate num saco de boxe ‘normal’”, explicou Mauro Frota.
Uma segunda ideia é que o controlo remoto desta espécie de PlayStation gigante seja o corpo das pessoas, “sem qualquer outro gadget” e para que isso aconteça, há sensores.
A primeira versão dos sacos só tem um sensor, mas o novo modelo em produção que substituirá o existente e que surgirá a partir de abril no “velho” e nos novos ginásios, é feito com quatro sensores. Espreite a constituição do saco no vídeo a seguir.
Através de machine learning estes sensores identificam onde o saco está a ser golpeado com uma precisão superior a 97%, assegurou o cofundador e CEO da BHOUT. Identificam também a força de cada golpe, com a ajuda da visão de uma câmara de acompanhamento ao microssegundo que mede outras coisas, como o tipo de golpe, a qualidade biomecânica do golpe comparada com a qualidade biomecânica do modelo treinado, e velocidade do golpe. Mede ainda o esforço e a exatidão, ou seja, se o saco está a ser golpeado no sítio certo e com a sequência pedida.
“Olhámos para uma luta real de boxe, de kick boxing e de muay thai e tudo o que é tangível e que pode ser medido, medimos”.
O sistema criado depois transforma a informação recolhida em pontos atribuídos, e as pessoas podem jogar em qualquer lado, em casa, noutro ginásio, no hotel ou no escritório - se por exemplo trabalharem no LinkedIn, que será a primeira grande empresa a ter o conceito nas suas instalações.
Vale-se ainda da “envolvência” conseguida pela mistura entre música e luzes led no formato de “mood rings”, em baixo e em cima, para que as pessoas entrem muito rapidamente no chamado “flow state”, termo que designa a perda da noção do tempo quando estamos envolvidos em algo que nos agrada. “Imagine esta sensação para alguém que não gosta de fazer exercício? É por isso achamos que conseguimos ir buscar estas pessoas e garantir que elas vão voltar depois”, assegura Mauro Frota.
O conceito de treino vai envolver ainda uma app individual “em fase final de desenvolvimento”, com elevado grau de personalização, a partir dos dados que o utilizador vai adicionando.
Há outras novidades em preparação, como um coach virtual por enquanto conhecido pelo nickname Joe, capaz de ensinar às pessoas as técnicas do boxe, do kick boxing e do muay thai. “Nos clubes existe o apoio do coach presencial, mas no hotel, no escritório ou em casa não. O coach virtual vai estar disponível 24 horas para poder explicar e corrigir as técnicas através de uma câmara” explicou Mauro Frota.
Levar o boxe gamificado ao estrangeiro e aos jogos (eletrónicos) olímpicos
A abertura de ginásios BHOUT não passa apenas pelo alargamento da rede em Portugal. As intenções são internacionais e diversificadas. Mauro Frota adiantou que a empresa está atualmente a negociar acordos em quatro países, dois deles prioritários: Espanha e Brasil.
No início do próximo ano, poderá rumar aos Estados Unidos, “a começar por Nova Iorque, onde já temos inclusive o primeiro espaço identificado”. E a paragem a seguir? O Médio Oriente, claro.
A par da expansão dos clubes, a BHOUT tem a grande ambição de transformar o eboxing como exergame num desporto olímpico, algo que Mauro Frota acha ser alcançável com o saco que a empresa desenvolveu.
“O Comité Olímpico Internacional está neste momento muito atento aos exergames porque considera ser uma boa forma de pôr pessoas sedentárias a fazerem exercício físico”.
Além disso, a empresa entrou recentemente num protocolo com a Faculdade de Motricidade Humana para a criação do primeiro laboratório de eSports em Portugal, dedicado à investigação dos efeitos desses jogos no corpo humano.
“Já fechámos o acordo para fornecer equipamento à faculdade. Vamos fazer investigação em termos gerais e no exergame da BHOUT em particular”, adiantou Mauro Frota. “A ideia é investigar aspetos psicossociais dos jogadores, criar regras e transformar isto num desporto a sério".
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