Foi criada para durar menos de dois anos e, entretanto, passaram 20. A Mars Express foi, não só a primeira missão da ESA a Marte, mas também o primeiro artefacto europeu a orbitar um qualquer planeta do Sistema Solar.
Lançada a 2 de junho de 2003, a sonda entrou na órbita em redor de Marte a 25 de dezembro do mesmo ano e começou a tarefa para a qual foi construída, com a ajuda de um pacote de oito instrumentos de última geração: estudar a atmosfera e o clima marcianos, desvendar a estrutura, mineralogia e geologia do planeta e procurar por sinais de água à superfície.
Apesar de um tempo estimado de vida ativa de apenas 687 dias terrestres(equivalente a um ano em Marte), a Mars Express está no espaço há duas décadas tornando-se, inegavelmente uma das missões mais bem-sucedidas já enviadas ao Planeta Vermelho, alcançando todos os objetivos a que foi proposta.
A ESA fez as contas e nos últimos 20 anos a missão percorreu 1,1 mil milhões de quilómetros em mais de 24.000 órbitas de Marte. Com os seus dados, contribuiu também para a formação de mais de 170 alunos de doutoramento e para a publicação de mais de 1.800 artigos científicos.
“As observações feitas pela missão solidificaram a nossa imagem de Marte como um planeta outrora habitável, com épocas mais quentes e mais húmidas que podem ter acolhido vida, num cenário muito diferente do traçado na visão anterior, que o caracterizava como um mundo eternamente frio e árido”, escreve a ESA.
Entre os marcos alcançados pela Mars Express está a identificação e o mapeamento de sinais da existência anterior de água em Marte, e da sua influência e prevalência ao longo da história marciana. Também examinou profundamente a atmosfera do planeta vermelho, indicando como os gases são distribuídos e escapam para o espaço e como a poeira é levantada da superfície para o ar.
Clique nas imagens para conhecer alguns dos marcos da missão Mars Express
Assistiu igualmente a tempestades de poeira gigantes engolirem o planeta, criando nuvens familiares às que vemos na Terra, e rastreou raras auroras ultravioleta. Entre os marcos estão ainda os sinais de vulcanismo e tectónica recentes e episódicos e a exploração de características únicas da superfície do planeta, com o mapeamento de 98,8% de Marte e criação milhares de imagens 3D de crateras de impacto, desfiladeiros (incluindo o sistema Valles Marineris), os polos gelados do planeta, imensos vulcões e muito mais.
O orbitador também estudou a lua mais interna de Marte, Fobos, em detalhes sem precedentes - passando a cerca de 45 km do misterioso satélite - e observou Deimos, a lua menor, enquanto viaja pelo Sistema Solar.
Depois disto tudo, esta sexta-feira a Mars Express vai voltar a “fazer a diferença” ao transmitir, pela primeira vez, imagens de Marte em direto. A estreia acontece ao longo de uma hora, existindo novas imagens a cada 50 segundos, transmitidas diretamente da Câmara de Monitorização Visual (VMC) a bordo da sonda.
A ESA nota, no entanto, que demorará cerca de 18 minutos entre as imagens serem captadas e chegarem aos ecrãs: 17 minutos para a luz viajar de Marte para a Terra e cerca de um minuto para passar pelos cabos e servidores no solo, explica.
Naquela que será o mais próximo que quase todos nós estaremos de ver ao vivo e a cores o Planeta Vermelho, a transmissão começa às 17h00 de Lisboa e pode ser acompanhada através do canal da ESA no YouTube.
Recorde-se que, a par do foco na ciência marciana, a Mars Express também apoiou muitas outras missões enquanto procuravam um local de pouso adequado, viajavam para o planeta, comunicavam com estações na Terra ou amartavam, sendo que a ajuda à exploração marciana está longe de terminar. Exemplo disso é uma recente extensão que vai permitir que a sonda suporte a missão Mars Moons eXploration (MMX), liderada pela JAXA, e prevista para avançar em 2025.
De acordo com a ESA, a Mars Express vai continuar a observar o planeta Vermelho pelo menos até ao final de 2026, com uma extensão indicativa para apoiar a MMX, de 1 de janeiro de 2027 a 31 de dezembro de 2028, seguida por dois anos de pós-operações.
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