Por Jarek Jakubcek (*) 

À medida que o panorama digital global avança, o mundo continua a assistir ao rápido crescimento do ecossistema Web3 em todo o mundo. Contudo, é comum observarmos desafios e riscos emergentes em áreas de rápido crescimento. Por exemplo, o boom da Web2 trouxe consigo o seu próprio conjunto de problemas de segurança, tais como ataques de phishing e preocupações com a violação de dados.

A indústria nascente da Web3 não é exceção. Tal como o ecossistema está a evoluir, os cibercrimes da Web3 também estão a ficar mais avançados, com os criminosos a tornarem-se mais sofisticados com os seus ataques. Como tal, é importante que um país tenha uma infraestrutura Web3 segura e estável que possa apoiar o crescimento contínuo ao mesmo tempo que elimina os riscos de cibercrime e de crimes financeiros.

O setor público, os reguladores e as autoridades policiais em particular, desempenham um papel crucial na construção de quadros regulamentares e no estabelecimento das bases para a segurança da Web3 de cada país. O setor privado, que inclui as plataformas de negociação de criptomoedas (“exchanges”) ou as empresas de análise de dados, podem complementar o know-how de forma a alavancar a tecnologia da blockchain para a investigação. Por isso, através de colaborações reforçadas entre os setores público e privado, a indústria da Web3 pode efetivamente desenvolver estratégias de segurança mais abrangentes para colmatar as lacunas existentes no sistema, reduzindo simultaneamente a sua suscetibilidade a ciberataques e cibercrimes.

Maiores esforços de integração entre as organizações Web3 e as autoridades

Quando a maioria das pessoas pensa na Web3, os jogos “play-to-earn” e as finanças descentralizadas (DeFi) estarão provavelmente no topo da sua lista. No entanto, a maioria não repara no imenso potencial que existe na Web3 para reforçar a cibersegurança e a aplicação da lei. A tecnologia de blockchain engloba certos aspetos que podem melhorar muito as técnicas de investigação existentes, se as autoridades souberem como alavancar e operacionalizar os dados. Por exemplo, os registos permanentes de todas as transações na blockchain tornam desafiante ou mesmo impossível de remover vestígios da pegada digital. Isto pode fazer desta tecnologia uma poderosa ferramenta de investigação que facilita a localização de criminosos.

Nessa frente, as organizações Web3 e as autoridades policiais têm vindo a trabalhar de perto nas iniciativas de combate ao branqueamento de capitais (AML) para localizar as atividades dos canalhas, e podemos esperar que a colaboração entre os dois setores se reforce em 2023. Desde o ano passado, tem sido levada a cabo uma investigação pelo “Enforcement Directorate” (ED) da Índia em relação à aplicação de jogos conhecida como E-Nuggets.

O criador do jogo alegadamente lançou o E-Nuggets para recolher dinheiro do público em troca de recompensas no jogo antes de uma remoção abrupta da base de dados da aplicação. Durante a investigação, o ED trabalhou em conjunto com a equipa de investigação da Binance para congelar 276,33 bitcoins que se suspeitava serem utilizados na lavagem de dinheiro. Esta cooperação entre o ED e a Binance é um exemplo perfeito de ação rápida e de troca de informações eficiente entre os setores público e privado.

Educação para reforçar a proteção dos utilizadores

A educação é uma componente chave da proteção e segurança em todas as indústrias, mas especialmente numa indústria em expansão como a Web3. Para manter os elevados padrões de aplicação da lei e cibersegurança a nível global, é essencial tomar medidas no sentido de uma educação e formação significativas e proativas para todos os intervenientes na indústria. Nos últimos anos, temos assistido a uma procura crescente de formação e workshops por parte das autoridades policiais de forma a acelerar ferramentas e competências para combater o cibercrime.

Como ator dominante neste ecossistema, acreditamos que a Binance deve desempenhar um papel importante na cooperação ativa com o setor público, apoiando a investigação, a prevenção do crime e os esforços de desenvolvimento de capacidades. Só em 2022, a equipa de Investigações da Binance realizou e participou em mais de 70 workshops ou ações de formação sobre o combate ao cibercrime e crime financeiro, envolvendo as autoridades locais nas respetivas jurisdições. Através destas colaborações educacionais, tanto o setor público como as organizações da Web3 podem trocar ideias para alcançar uma melhor compreensão da evolução do panorama dos ativos digitais em que operam.

A luta pela segurança em 2023

Como a indústria cripto continuará a crescer em 2023, há um esforço coletivo e uma responsabilidade partilhada entre unidades de investigação, autoridades policiais, organizações Web3, bem como com utilizadores individuais para combater os desafios de segurança. As organizações Web3 precisam de trabalhar em estreita colaboração com os reguladores e as autoridades policiais para construir um ambiente seguro e em conformidade para que a inovação possa prosperar.

No entanto, tomar medidas para melhorar a educação dos utilizadores é também uma componente importante do combate aos crimes de segurança. Ao unir forças em todos os setores, estes esforços ajudarão a aumentar a segurança, encorajarão a inovação e, em última análise, impulsionarão a indústria.

(*) Head of Law Enforcement Training da Binance.

Jarek Jakubcek esteve esta semana em Lisboa para realizar ações de formação com a brigada anti-cibercrime da Política Judiciária. Este seu artigo de opinião é um exclusivo Tek.SAPO.