Por Arash Aazami (*)

Atualmente, na indústria energética, existe um pressuposto persistente: o conceito de um sistema energético "descentralizado" evoca imagens de um sistema que simplesmente replica o modelo nacional, mas numa escala mais pequena. Um exemplo disso é o atual sistema elétrico em grande escala, alimentado por uma mistura de centrais a carvão, centrais nucleares, centrais a gás e, cada vez mais, turbinas eólicas e painéis solares. É frequente as pessoas tentarem reproduzir este sistema a nível local, utilizando principalmente fontes de energia renovável.

Não rentável por definição

Há um "mas" significativo: estes sistemas de pequena escala são frequentemente considerados inviáveis por não serem rentáveis. O cerne deste problema? Estarmos apenas a tentar reproduzir a uma escala menor um modelo antigo de grande escala, com as mesmas expetativas e princípios de conceção que temos vindo a utilizar há décadas. Num tal sistema, a energia renovável gera mais problemas do que resolve: estas fontes renováveis não podem ser comutadas quando necessário, o que exige um investimento ainda maior numa rede capaz de suportar picos de energia e armazenamento de eletricidade em grande escala. Triplamente caro, por assim dizer.

O que é que significa descentralizado? O que é que significa distribuído?

Vamos dar um passo atrás: qual é a diferença entre descentralizado e distribuído? A Internet atual é um bom exemplo de um sistema distribuído. Não existe um controlo central. É constituída por milhares de milhões de dispositivos que podem comunicar entre si sem a intervenção de uma autoridade central. Cada dispositivo, quer seja um computador, um telemóvel ou um frigorífico inteligente, contribui para o todo. O todo é maior do que a soma das suas partes.

Num sistema descentralizado, existe uma forma de controlo central, mas em menor escala. É o que vemos frequentemente nas iniciativas energéticas locais que criam uma "mini-rede". No entanto, muitas vezes continuam a estar vinculadas às regras e aos princípios da rede mais vasta de que fazem parte.

Por outro lado, os sistemas de energia distribuídos reconhecem que cada local, comunidade ou parque empresarial é único. Têm em conta as necessidades, os recursos e as capacidades locais e constroem um sistema que os utiliza da melhor forma possível. Por exemplo, numa zona com muito calor residual, este calor pode ser utilizado para aquecimento local, enquanto outra zona pode focar-se no armazenamento de energia solar. Uma comunidade pode priorizar a energia solar, enquanto outra gere um parque eólico ou utiliza a energia geotérmica ou a biomassa local.

Mais do que a soma das partes

A grande vantagem de um sistema de energia distribuído é o facto de ser flexível. Pode adaptar-se a diferentes circunstâncias e necessidades. É resistente. E talvez o mais importante: permite que as comunidades e indivíduos controlem o seu próprio abastecimento energético. Desta forma, deixamos de ser consumidores passivos e passamos a ser produtores e gestores ativos da nossa própria energia.

É altura de ultrapassar as formas tradicionais de pensar e olhar para o que o futuro nos pode oferecer. A tecnologia existe, o conhecimento existe e a necessidade existe. Temos agora de dar o passo em direção a um futuro energético que seja sustentável e resiliente e que ligue o local ao local. Juntos, mais do que a soma das partes.

(*) Especialista em Energia, Fundador da Unify Energy