Por Pedro Trincão Marques (*) 

É inegável que a era digital trouxe consigo uma série de vantagens. Hoje, podemos realizar transações financeiras, aceder a quase todo o tipo de serviços ou falar com alguém que esteja do outro lado do mundo sem sair de casa. What a wonderful World, já cantava Louis Armstrong. No entanto, com todas estas comodidades, surgiu um problema que, cada vez mais, precisa de solução: a veracidade da identidade digital.

Os recentes avanços na Inteligência Artificial permitiram o desenvolvimento de sistemas capazes de gerar conteúdos que se assemelham àqueles produzidos por humanos. Algoritmos de geração de linguagem, por exemplo, podem produzir textos coerentes e, muitas vezes, idênticos aos escritos por pessoas. À boleia destes avanços, aparece a necessidade de diferenciar entre o que é gerado, ou não, por Inteligência Artificial. Essa distinção é fundamental para garantir a confiança dos utilizadores nas informações, preservar a integridade dos processos democráticos ou evitar fraudes financeiras.

Assim, com o aumento da digitalização, a importância da existência de mecanismos de verificação confiáveis de autenticação é premente. Falamos de uma prova de identidade pessoal – ou PoP, na sigla em inglês -, um conceito relacionado com a autenticação e verificação de uma pessoa no contexto digital. O objetivo deste sistema passa por garantir que uma pessoa envolvida numa interação online é de facto quem afirma ser – desta forma, é possível evitar fraudes e garantir, ao mesmo tempo, segurança nos processos digitais.

Esta prova de identidade pessoal pode assumir diferentes formas, dependendo do contexto e das tecnologias disponíveis. Olhemos para este processo através de camadas, onde cada camada corresponde a um conjunto de informações ou verificações necessárias para comprovar a identidade na Internet. Nas primeiras camadas o processo de autenticação é simples, com questões como “não sou um robô”, que já foram respondidas por todos e onde não são necessários mais passos para prosseguir. Aqui, faltam provas que sustentem a humanidade. Mas, nas camadas mais desenvolvidas, torna-se indispensável comprovar que uma pessoa é humana e única.

E como se chega a estas últimas camadas? As empresas tecnológicas procuram respostas e apresentam soluções que permitam uma verificação segura ao mesmo tempo que os dados dos utilizadores são protegidos. A biometria é uma das tecnologias que surge para colmatar esta lacuna, onde a singularidade à escala global pode ser verificada. É disso exemplo o protocolo descentralizado criado pela startup americana Worldcoin, onde as pessoas podem, de forma privada, provar que são reais na Internet através do reconhecimento da íris.

A era da Inteligência Artificial trouxe vantagens, mas também desafios aos que é preciso responder. À medida que continuamos a avançar no mundo digital, é fundamental investir em pesquisa e desenvolvimento de mecanismos que diferenciem máquinas de humanos, de forma a construir um futuro mais seguro para todos.

(*) manager do mercado ibérico da Worldcoin