Por Miguel Ladeira Santos (*) 

Na última década, o ensino tem vindo gradualmente a ser alvo de abordagens inovadoras que induzem ao rompimento com os métodos da escola tradicional e passam a nutrir a individualidade do aluno, promovendo uma educação mais flexível que privilegia a personalização do processo de aquisição de conhecimentos. Num mundo em acelerada mudança, as tecnologias emergentes - de mãos dadas com a Inteligência Artificial - e as novas metodologias pedagógicas representam o grande catalisador desta transformação, proporcionando novas formas de ensinar, aprender e interagir com o conteúdo.

Ainda que aporte desafios como a cibersegurança e a adequada capacitação dos docentes para que a integrem de forma equilibrada, e não se torne uma mera distração, a tecnologia começa a estar manifestamente presente em escolas diferenciadoras. Aqui, é prioritário compreender e trabalhar o seu papel ativo no ensino e de que forma potencia a preparação dos alunos tanto no seu percurso académico, como nas futuras profissões. É um facto que o contexto português apresenta ainda um longo caminho a percorrer no que diz respeito a políticas pedagógicas que promovam uma atuação disruptiva mas a sociedade em geral demonstra abertura e os pais, em particular, estão cada vez mais atentos aos novos modelos.

Desde logo, acontecimentos recentes à escala global provaram-nos que ferramentas de apoio como as plataformas online vieram tornar possível o ensino à distância e os modelos híbridos. Mais além, temos vindo a compreender que as suas funcionalidades podem contribuir para a ambicionada personalização da aprendizagem, com recurso a algoritmos que adequam o conteúdo e o ritmo às necessidades de cada aluno. De igual forma, estes softwares democratizam o acesso ao conhecimento, facilitam a partilha de conteúdos e acompanham a evolução dos estudantes, sendo a análise de desempenho em tempo real uma componente importantíssima desta aprendizagem adaptativa, pois só assim é possível redefinir estratégias customizadas mediante as áreas de dificuldade. Por seu lado, a introdução da Realidade Aumentada no quotidiano letivo passou a permitir criar formatos imersivos onde é possível explorar conceitos de forma interativa dentro da sala de aula, querendo-se também esta cada vez mais modular. Na mesma linha, laboratórios virtuais permitem realizar experiências em ambientes controlados, particularmente úteis nas áreas cientificas.

Mas para o fim, o mais promissor: a gamificação. Quando bem implementada, a incorporação de elementos de jogos na escola torna o conteúdo mais atrativo e potencia o interesse dos alunos, mantendo-os mais focados e motivados para avançar. Uma nova abordagem que pode incluir desafios singularizados a diferentes níveis de dificuldade ou recompensas à medida que se concluem tarefas, incentivando ao envolvimento de um modo que agrada genuinamente ao jovem. Parcerias estratégicas com organizações líderes como a Lego Education e a Microsoft Education, por exemplo, permitem utilizar diferentes softwares de programação como o Lego Robotics ou o Minecraft Learning para a execução de projetos. Ao implementar atividades competitivas como quizzes ou colaborativas como trabalhos de grupo, a gamificação promove tanto o sentido de conquista pessoal, como o trabalho de equipa. Enquanto esta sensação estimula os alunos a dedicarem-se mais aos estudos, é igualmente promovida a sua autonomia e são encorajados a assumir o controle do seu próprio processo de aprendizagem. A prática repetida, característica comum nos jogos, ajuda a reforçar o conteúdo aprendido e a desenvolver habilidades essenciais dos tempos modernos, como a resolução de problemas complexos, o pensamento crítico, a literacia digital e a disponibilidade para a aprendizagem contínua. Adicionalmente, a gamificação facilita o rápido retorno sobre a performance dos estudantes e a análise destes dados educacionais permite que as instituições tomem decisões sobre currículos e métodos de ensino baseadas em evidências.

E voltamos ao ponto de partida, a individualidade. Agora reforçada com outro conceito igualmente preponderante, a inclusão. A inovação ao serviço da educação aparenta ser uma poderosa ferramenta para promover a inclusão, garantindo que todos os alunos, independentemente das suas competências ou necessidades especiais, se sintam envolvidos e tenham a oportunidade de participar ativamente nas atividades escolares.

(*) CEO da Sharing Education Group