Por Pedro Tavares e Pedro Sanguinho (*)
Em 2021, o setor das Telecomunicações em Portugal, vivenciou um período de expectativa fortemente polarizado pelo processo de atribuição de espectro para o 5G, promovido pelo regulador nacional – ANACOM e amplamente desafiado pelos maiores operadores nacionais – ALTICE, VODAFONE e NOS. Não obstante a mediatização de todo o processo, os operadores de telecomunicações fizeram o seu trabalho – e bem - de preparação das suas redes para que, finalizado o processo de atribuição de espectro, a disponibilização do serviço 5G fosse célere – e foi. Poucas semanas depois de concluído o processo, a NOS anuncia o lançamento do serviço.
E o que podemos esperar para 2022 (e anos seguintes)? O menu está recheado de desafios (e expetativas) a começar pela entrega das promessas do 5G, o posicionamento do Pais face ao 6G, a forma como o Governo endereçará a conectividade para as ilhas dos Açores e da Madeira e a aposta nacional em Sines como hub de conectividade internacional. Mas, vamos por partes:
Em matéria de comunicações móveis, a história tem-nos demonstrado que as promessas tecnológicas associadas a uma geração móvel acabam muitas vezes por apenas se materializar, verdadeiramente, na geração seguinte, por exemplo, foi no 4G que o acesso à Internet se democratizou tendo sido esta uma promessa do 3G. Mesmo antes, apenas na segunda geração (2G) conseguimos atingir níveis de cobertura que permitiram uma adoção massiva do telemóvel pelo público em geral para poder estar contactável a qualquer hora e em praticamente qualquer lugar. Será que a disrupção tecnológica tantas vezes associada ao 5G apenas se materializará com a chegada do 6G?
Futurologia à parte, a Europa discute já hoje, com o projeto Hexa-X, o que se deveremos ambicionar da próxima geração móvel, onde vários fabricantes, universidades e outros parceiros tecnológicos de diferentes países europeus procuram assumir a liderança na definição do 6G e da visão que preconiza, a união dos mundos físico, digital e humano. Será interessante perceber quem em Portugal, e de que forma, começará a dar os primeiros passos no tema e assim contribuir que na próxima geração móvel Portugal seja dos países pioneiros na adoção da tecnologia.
Entretanto, será interessante acompanhar para já o desenvolvimento da cobertura 5G em Portugal dando cumprimento às exigências impostas pela Anacom mas igualmente interessante perceber de que forma os diferentes operadores vão conseguir tirar partido das novas capacidades tecnológicas do 5G e lançar novos serviços realmente diferenciadores no mercado. Em termos de regulação deveremos esperar uma definição sobre a disponibilidade das novas bandas de frequências mais elevadas (mmWaves) superiores a 24GHz, que serão essenciais para a densificação da cobertura 5G e disponibilização de ainda maiores velocidades.
Atualmente, as comunicações para as ilhas dos Açores e da Madeira são asseguradas através de um anel de cabos submarinos cujo final de vida útil ocorrerá, estima-se, em 2024. Ciente desta inevitabilidade, a ANACOM - mandatada pelo Governo - liderou um grupo de trabalho que propôs 12 recomendações sendo que uma das quais que fosse a IP TELECOM a assegurar o processo de gestão, construção e posterior comercialização do novo anel de cabos submarinos (substituindo a ALTICE neste papel). A nova infraestrutura deverá ter muito maior capacidade do que a atual - superior a 1000 vezes - utilizar tecnologia de ponta Spatial Division Multiplexing (SDM) e ter embebidos vários sensores (p.e. de temperatura, pressão, acelerómetro) que permitirão entre outras coisas, detetar eventos sísmicos. Caberá agora ao novo Governo assegurar os meios financeiros para que esta infraestrutura crítica seja implementada antes do final de vida útil da atual.
Anunciado publicamente em Abril de 2021, o projeto Sines 4.0 promete ser fundamental na transição digital nacional e consubstancia-se na edificação de um megacentro de dados composto por 5 edifícios. A posição estratégica de Sines, como ponto de amarração de sistemas de cabos submarinos, foi também um fator determinante na decisão de aí instalar o projeto. Atualmente, amarra em Sines o sistema Ellalink que tem origem em Fortaleza no Brasil e deriva no meio do Oceano Atlântico para Cabo Verde e Madeira.
O sistema Medusa está previsto, também, amarrar em Sines, o 2Africa, consórcio liderado pelo Facebook, está projetado para amarrar em Carcavelos e o sistema Equiano, liderado pela Google, em Sesimbra. Uma vez terminadas todas estas amarrações e assegurada uma rede de transporte por fibra ótica de muito baixa latência entre Sesimbra, Carcavelos e Sines teremos uma capacidade de escoamento de tráfego internacional a rondar os 0,5 PByte/s o que representa 500.000 circuitos simultâneos de acesso à Internet de 1GB/s.
Muito se espera desta nova infraestrutura em solo nacional sendo uma oportunidade única para atrairmos os grandes hyperscalers mundiais que passam a ter condições privilegiadas para disponibilizar os seus serviços através de Portugal. Cabe aos principais agentes económicos do Pais a sua promoção internacional.
(*) Pedro Tavares, Partner da Deloitte e líder do Global Telecom Networks Center e Pedro Sanguinho, Senior Manager da Deloitte e líder da prática de 5G
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