No final de 2021, a JP Sá Couto (que centraliza o negócio no JP Group) e a Also anunciaram um acordo para a venda da unidade de distribuição da empresa portuguesa ao grupo suiço. A operação ficou recentemente concluída, com a aprovação pela AdC e a Also Portugal começou oficialmente a trabalhar no início de julho.

Como explicou Jorge Sá Couto, um dos dois irmãos fundadores da JP Sá Couto e presidente da empresa, a unidade de negócio alienada representava 60% do volume de negócios da JP. Em 2021, o grupo português faturou mais de 300 milhões de euros nesta área de negócio. Sem ela, passa a concentrar grande parte dos seus esforços no mercado da educação (gerido pela JP.Ik), onde tem investido em força nos últimos anos e onde espera continuar a crescer, também por força deste negócio, explica ao SAPO TeK.

O acordo assinado com a Also foi, além de um acordo de venda, um acordo de parceria, que deve ter implicações importantes na capacidade de distribuição dos produtos de marca própria da JP.

“Esta parceria estratégica com a Also, a par da alienação da unidade de negócio da distribuição, agrega também um Acordo de Comercialização dos produtos produzidos pela JP Sá Couto”, explica Jorge Sá Couto.

O acordo vale para os países europeus onde a Also está presente e “potencia um crescimento significativo da JP, tanto na área da educação, como em outras áreas tais como: o Gaming, os Notebooks, os produtos NUC , entre outros”, acrescenta o mesmo responsável, sublinhando que, por esta razão, a empresa está a preparar-se para acelerar vendas no mercado europeu.

A proximidade entre as duas empresas materializa-se aliás também na presença que os fundadores da JP, Jorge e João Paulo Sá Couto, passam a ocupar no Advisory Board da Also Portugal. Segundo Jorge Sá Couto, este foi um convite que surgiu por causa do conhecimento que ambos acumularam neste mercado e que dará aos irmãos a oportunidade de verem as suas “opiniões consideradas aquando da tomada de decisões estratégicas para o negócio”. João Paulo Sá Couto dirige ainda as operações locais da Also.

Marca própria abre caminho em novos mercados

A JP Sá Couto ganhou escala a distribuir produtos informáticos, quer agora continuar a crescer concentrando-se nos seus próprios produtos e beneficiando da estrutura de um parceiro, para assegurar a distribuição desses produtos. A oferta própria da empresa no mercado não é nova, mas tem-se diversificado e especializado no mercado da educação. Em paralelo, mantém a marca Tsunami, autónoma, que fabrica equipamentos informáticos para o mercado de consumo e empresarial, mas que mantém o grande foco no gaming e nos eSports.

Na educação, o primeiro grande sucesso da JP Sá Couto foi o portátil Magalhães, um conceito (Classmate PC) que evoluiu mas que continua no portefólio da empresa e que tem sido o passaporte para entrar em vários mercados da América Latina e África. No entanto, o portefólio de produtos próprios é hoje mais extenso. Centra-se em soluções educativas para alunos até aos 12 anos, onde o portátil é a estrela principal. Recentemente foram também lançados um notebook para universitários e um modelo pensado para professores.

JP-IK: Uma empresa portuguesa a “inspirar conhecimento” nos quatro cantos do mundo
JP-IK: Uma empresa portuguesa a “inspirar conhecimento” nos quatro cantos do mundo
Ver artigo

Neste segmento da educação, a empresa não vende para o retalho. Trabalha com escolas, ONGs e governos, um modelo que pretende manter, mas contando agora com o reforço dos canais de distribuição na Europa. Jorge Sá Couto admite mesmo que a empresa portuguesa quer ser um fabricante de referência no portefólio europeu da Also, apostando em força nesta sinergia para a distribuição dos seus produtos.

Em Portugal, a JP Sá Couto foi uma das empresas envolvidas na iniciativa Escola Digital, de que faz um balanço positivo. Coube-lhe o fornecimento às escolas de 140 mil dos 450 mil computadores previstos pelo programa, que aconteceu na altura prevista. “Existem ainda alguns projetos que estamos à espera que sejam anunciados e executados”, adianta Jorge Sá Couto.

Fora do país estão em marcha vários projetos. Como mais relevantes, a empresa destaca os projetos no Uruguai, no Botswana e o projeto Unops, mas também admite que está a “atuar ativamente em vários países europeus”, que com a pandemia e os confinamentos realinharam e aumentaram os seus investimentos em soluções para a educação à distância. Em termos mais simbólicos destaca ainda um projeto na Ucrânia.

No Uruguai, a atividade da JP Sá Couto teve início em 2011, o que faz deste o projeto mais longo da empresa até à data. A empresa é parceira do Plano Ceibal, uma iniciativa da Presidência da República para levar um portátil a cada aluno e professor do ensino público, mas também para fornecer acesso à internet nas escolas e uma variedade de ferramentas e recursos que ajudem a melhorar o ensino.

No Botswana, um mercado mais recente, vai entregar 30 mil equipamentos a alunos e professores, através de um parceiro, a Empire.

“Este fornecimento dá resposta à carência de equipar 34 escolas secundárias do Botswana com tecnologia de apoio à sala de aula, no âmbito de um programa do Ministério da Educação”, explica Jorge Sá Couto.

À Ucrânia estão também a chegar tablets e laptops educativos fabricados pela JP Sá Couto, no âmbito de uma iniciativa para continuar a garantir a educação das crianças mesmo, em contexto de guerra. Este é também um projeto realizado com um parceiro, a Navigator System LLC, e visa a entrega de 1.000 equipamentos.

O projeto UNOPS acontece na Argentina, onde a empresa venceu um concurso das Nações Unidas para fornecer computadores (Classmate PC) a mais de 47.000 alunos de escolas de Buenos Aires. É um contrato que vale 12 milhões de dólares.

Ainda em relação à produção própria de equipamentos (a empresa finaliza na sua fábrica local equipamentos que, nas componentes core, são fabricados por parceiros na China), a JP garante que as dificuldades com o abastecimento de componentes eletrónicos e chips, que marcaram os primeiros tempos da pandemia, estão ultrapassados. “Atualmente o mercado já reagiu e encontrou soluções alternativas pelo que já não há, felizmente, constrangimentos a nível de fornecimento”, assegura Jorge Sá Couto.