A IDC voltou a reunir no Centro de Congressos do Estoril o debate sobre os temas das tecnologias da informação e da economia digital, com os bilhetes esgotados e mais de 2.000 inscritos, vários painéis com algumas das principais organizações do sector e uma área de exposição com 60 empresas, que este ano volta a ser maior do que no ano passado.

É já a 22ª edição do IDC Directions e os protagonistas das apresentações são os fabricantes, mas não deixaram de trazer muitos exemplos de clientes para o palco onde o tema central volta a ser a transformação digital, um processo que já está em curso em muitas organizações mas que precisa agora de ganhar escala.

Segundo os dados da IDC, 46% da empresas já são ‘digital determined’, que já estão a fazer a transformação digital há vários anos, com estratégia e a ganhar escala; enquanto 54% são ‘digital distraught’,  têm o tema na agenda mas ainda não em escala. Em ambos os casos há trabalho a fazer no aprofundamento dos modelos, como explicou esta manhã Serge Findling, vice presidente de Research e Digital Transformation da IDC.

“A forma das empresas do futuro está mais claro. As dimensões são as mesmas, não mudaram, só estão a profundar-se” explica o analista, detalhando as várias áreas onde as organizações têm de investir para conseguir ser mais competitivas no futuro, e trazendo para palco múltiplos exemplos de empresas de todo o mundo que estão a conseguir transformar o seu negócio, a forma de colaboração e a criar empatia com os clientes através da tecnologia.

A necessidade de avançar rápido foi também sublinhada, porque não há tempo a perder, sob o risco de as organizações atuais se tornarem irrelevantes, mas para avançar na próxima fase da transição digital é preciso também ter um roadmap claro, que todos na organização sigam em conjunto.

Transformar o trabalho, mas também o “propósito” das empresas

Pedro Faustino, Executive Director da Axians Portugal, desafiou a audiência a perguntar-se “para que serve uma empresa”, defendendo que se fala cada vez mais do propósito das empresas num mercado com modelos que aprofundam a desigualdade de distribuição de riqueza. A intervenção não foi sobre tecnologia, mas mais sobre responsabilidade social, envolvimento dos colaboradores e a influência que as organizações têm sobre as pessoas, podendo de alguma forma ser comparadas às igrejas do século XXI, de forma metafórica.

“Usado para o bem, tem um poder de alcance enorme”, afirma, lembrando que isso está na base do negócio da empresa. “O mundo avalia a qualidade das empresas pela qualidade do seu propósito”, sublinhou.

Também foi de propósito que falou Paula Panarra, até porque este está ligado com uma mudança de cultura e estratégia nas empresas, num contexto que muda com as novas gerações que estão a chegar ao mercado. “Os líderes têm de estar preparados para esta mudança, e o propósito tem de ser coerente com a estratégia de negócio”, justifica.

A tecnologia tem de ser maximizada como enabler da transformação nas organizações, sendo um dos pilares para uma relação mais eficiente com os clientes, capacitação dos colaboradores optimização de operações e transformação dos produtos. “Esta é a realidade, não do futuro mas do presente”, sublinha a directora geral da Microsoft Portugal, acrescentando que há novos modelos de maior exigência, personalização e colaboração, e a tecnologia ajuda a explorar soluções que se pensava não serem possíveis.

Cloud, Low Code e Inteligência Artificial

A tecnologia esteve na base de todas as apresentações durante a manhã do IDC Directions, embora o propósito e a pertença tivesse sempre presente, e a lógica da economia da experiência, sublinhada especialmente pela SAP.

Rui Pereira, co fundador e VP de Digital Transformation da Outsystem mostrou que o mundo do software está a mudar, e que hoje todas as empresas são empresas de software, só que ainda não sabem. A empresa, reconhecida pela sua aposta nas tecnologias low code, está a criar as bases para qualquer pessoa numa empresa poder criar aplicações sem ter de recorrer ao IT, e defende que o futuro passa por aqui.

Do lado das empresas a integração tem de ser maior, e os silos são os maiores inimigos, como adianta Paulo Carvalho, SVP SAP CX, EMEA South, que focou a sua apresentação na economia da experiência, mas alertou que o mundo onde alguém respondia que “isso não é do meu departamento” já mudou, e quem não conseguir resolver isso.

Para navegarem nesta economia da experiência as empresas precisam de mais dados sobre o que o cliente pensa, o que gosta, o que não gosta e como avalia os produtos e serviços. “Temos muito pouco dessa informação, temos muitos dados transaccionais, históricos, financeiros, e não estão integrados com a experiência “, alerta.

A tecnologia também centrou a apresentação de Bruno Morais, Country Manager da Oracle Portugal, que reconheceu que a transformação digital já é um tema gasto, mas tem que acontecer rápido e com menos falhas. E como fazer isso? “Como será a minha empresa no futuro e o que fazer para lá chegar são coisas que estão nos manuais dos consultores, o que não vi é com quem vou fazer esse caminho, e como tirar partido da Inteligência Artificial”, sublinhou.

Para Bruno Morais este é um dos momentos mais entusiasmantes e a AI não é apenas um chavão, mas um instrumento, e está a provocar uma enorme mudança na ligação da tecnologia às pessoas, que “está a acontecer e muito rápido”.

Na mesma linha, António Raposo de Lima, Diretor geral da IBM Portugal sublinhou que "é realmente um fantástico mundo novo", mostrando alguns exemplos, na área da saúde e do espaço, como o robot Simon que esteve na Estação Espacial Internacional, com capacidades transmitidas pelo Watson, com emoções, detetadas pelos algoritmos. E o mundo requer novos talentos e novas competências. "Será que as empresas instituições estão preparadas para o novo mundo, será que já têm a 'journey' definida, e a estratégia adequada" foram algumas das interrogações finais.

Mesmo assim há muito caminho a percorrer, e o diretor geral da IBM Portugal lembrou que só 4% das empresas com projetos em AI estão a tirar frutos disso.

O potencial do 5G e os computadores que têm de ser atualizados

A conectividade é um elemento fundamental para toda esta mudança e Luis Santo, responsável pela área de redes de rádio e 5G da NOS, falou sobretudo dos benefícios da nova geração de redes, o potencial nas áreas da indústria, mobilidade e até no entretenimento. A empresa desenvolveu 3 uses cases com parceiros e tem estado a trabalhar para ter um ecossistema pronto no próximo ano com a atribuição do espectro.

Procurando uma abordagem mais terra a terra, José Correia abordou os 5 mitos do end point, e lembrou que todos vamos continuar a ter computadores e impressoras, e que as organizações têm de fazer a actualização dos seus equipamentos de forma mais regular para melhorarem a experiência, a produtividade e a colaboração dos seus empregados, mas também a segurança. E falou também de sustentabilidade, um tema cada vez mais relevante e onde em Portugal ainda há muito para fazer.

Entre as várias apresentações da manhã os participantes ficaram ainda com “trabalhos de casa” e perguntas que devem levar para o local de trabalho amanhã. Pedro Faustino tinha deixado a do propósito da empresa, mas Manuel Maria Correia, da DXC Technology Portugal, juntou mais duas: “para onde nos leva a nossa estratégia digital” e “onde vamos estar nos próximos anos”. Das respostas também poderão sair mudanças.