A Huawei deu mais detalhes esta sexta-feira sobre a nova versão do seu sistema operativo móvel, na conferência de programadores que está a realizar na China e várias outras novidades. O evento foi aberto pelo CEO da empresa para a área de consumo, que elogiou a capacidade de inovação da tecnológica, face a todas as contrariedades que lhe têm sido impostas, e garantiu que nos últimos 10 anos a Huawei conseguiu inovar mais do que a Europa em três ou quatro décadas.

"O Harmony fez grandes avanços. Pode dizer-se que em 10 anos alcançámos o que os nossos homólogos europeus e americanos demoraram mais de 30 anos a fazer, em termos de desenvolvimento da tecnologia na base de um sistema operativo independente", afirmou Richard Yu, citado pela Reuters.

O responsável disse na mesma apresentação que o HarmonyOS está foi instalado em 900 milhões de dispositivos e aproveitou também para frisar que a sua plataforma Ascend, uma infraestrutura para inteligência artificial com processadores e serviços, é a mais poderosa de uma companhia chinesa e a segunda mais popular em todo o mundo, logo a seguir à da Nvidia.

Nos anúncios propriamente ditos, a futura versão “pura” do HarmonyOS é uma das estrelas. Isto significa que é a primeira verdadeiramente livre do Android; não depende da arquitetura do Android, nem oferece combatibilidade com as apps desenvolvdas para a plataforma. O HarmonyOS Next, que a marca tem vindo a desenvolver, vai ser usado em todos os produtos da marca, desde smartphones a computadores, passando por tablets, carros ou wearables, detalha o site Nikkei. No evento foi confirmado que a última versão de testes está terminada e pronta a ser experimentada. Esta é a última fase antes de um lançamento oficial e versão final, que deve acontecer ainda este ano. O modelo mais popular da marca neste momento, o Mate 70, deve receber a nova versão do SO ainda este ano.

"É diferente de outros sistemas operativos existentes, em que cada tipo de dispositivo necessita de um software específico. O Harmony OS Next é um tudo em um”, sublinhou Richard Hu.

Recorde-se que o HarmonyOS começou a ser desenvolvido pela Huawei com alternativa ao Android, o sistema operativo da Google que a companhia utilizava nos seus smartphone, mas deixou de poder usar por causa dos bloqueios progressivos dos Estados Unidos ao acesso de empresas chinesas a tecnologias desenvolvidas nos EUA.

Além do OS, a Huawei tem trabalhado noutras áreas, para eliminar toda a dependência de tecnologia norte-americana. Foi por isso que começou também a desenvolver o seu próprio LLM, alternativo ou ChatGPT, Gemini e outros. Tem feito o mesmo na componente de hardware, para o processamento de dados para inteligência artificial, trabalhando numa oferta paralela à de empresas como a Nvidia.

Na conferência, a Huawei mostrou igualmente uma nova versão do seu modelo de inteligência artificial generativa, o Pangu. Esta nova versão do LLM da Huawei, o Pangu 5.0, tem quatro variantes, com modelos de treino de tamanhos diferenciados. O mais pequeno pode ser integrado e correr localmente em smartphones. O modelo de média dimensão conta com 90 mil milhões de parâmetros, o segundo mais avançado tem 230 mil milhões de parâmetros e existe ainda um quarto, desenhado para tarefas mais complexas, de nível empresarial, com um bilião de parâmetros. Por comparação, o GPT-4 tem 1,76 biliões de parâmetros (variáveis ajustadas durante o processo de treino).

A empresa mostrou também a infraestrutura de IA (Harmony Intelligence) que vai suportar diferentes serviços com inteligência artificial nos seus equipamentos, como a assistente de voz Celia, assim como robots humanoides e soluções inteligentes para a indústria.

Dados recentes da Counterpoint confirmam que o HarmonyOS está a crescer em todo o mundo, especialmente na China, onde ultrapassou o sistema operativo da Apple, mas não só. Ainda que seja apenas uma quota marginal, a nível global, o Harmony OS duplicou de 2% para 4%, nos primeiros três meses do ano. Em contraste, Android e iOS perderam 1% de quota, registando 77% e 19%, respetivamente. Na China, o sistema operativo da Huawei já representa 17% do mercado.