A Meta, que na altura ainda era Facebook, comprou o WhatsApp em 2014 por quase 19 mil milhões de dólares e durante anos manteve a aplicação de mensagens a seguir a linha de desenvolvimento que os fundadores do projeto traçaram. O objetivo era assegurar uma alternativa simples e fácil de usar, que permitisse trocar mensagens entre amigos e familiares. Por não recorrer aos serviços dos operadores de rede era uma boa opção para usar em viagem, por não consumir grandes recursos também não dependia de muita largura de banda para ser usada.

A outra grande premissa sempre foi a privacidade das comunicações. E continuou a ser nos anos seguintes à aquisição e enquanto a operação continuou a ser liderada pelos fundadores, Jan Koum e Brian Acton. O serviço foi dos primeiros a anunciar que não guardava as mensagens trocadas pelos utilizadores nos seus servidores.

Em abril de 2016, já com novo dono, mas ainda sob a direção dos dois engenheiros, o WhatsApp lançou a encriptação de ponta a ponta, que assegura a confidencialidade total das comunicações trocadas entre dois interlocutores.

Nos anos mais recentes, a rede social ganhou uma importância difícil de prever em 2014. Em 2019 chegou aos 2 mil milhões de utilizadores e tornou-se um dos produtos de crescimento mais rápido no universo Meta, onde estão também o Facebook ou o Instagram.

Nos Estados Unidos, onde durante anos a app foi pouco usada, hoje mais de metade da população com idades entre os 18 e os 35 anos tem WhatsApp no smartphone, segundo números da própria Meta citados pelo The New York Times, que publicou esta quarta-feira um artigo sobre a transformação do papel e do peso da rede social no império criado por Mark Zuckerberg.

O crescimento acelerado da rede social fez soar alarmes na Meta para o potencial por explorar da plataforma, na área de negócio que continua a suportar o grupo: a publicidade, e várias novidades têm sido lançadas para explorar esse potencial, que se tem confirmado.

Estimativas recentes da empresa admitem que este ano as receitas publicitárias associadas apenas ao WhatsApp e ao Messenger podem ascender a 10 mil milhões de dólares, mostrando que, embora saiam milhões da empresa para investir num futuro Metaverso, no presente, quem paga a conta continuam a ser as apps sociais.

Numa entrevista recente, Zuckerberg admitiu mesmo que se imaginar a plataforma social do futuro, de raiz, vê algo idêntico ao WhatsApp e reconheceu que o serviço é o “próximo capítulo” para a empresa, que está interessada principalmente em explorar o potencial da app na vertente empresarial, como já tem vindo a fazer.

Em 2019, e quebrando uma promessa alegadmente feita quando comprou a app, de que manteria pouca interferência na gestão do produto para não desvirtuá-lo, Mark Zuckerberg mudou de estratégia e decidiu começar a trabalhar na integração de todas as apps sociais do grupo, para que pudessem partilhar dados e tecnologia entre si. A mudança de rumo acabou por levar à saída dos fundadores do projeto e de outros colaboradores, que mais tarde acusaram a Meta de não cumprir as promessas feitas quando comprou o WhatsApp, relacionadas com a prioridade dada à privacidade das comunicações.

Várias funcionalidades foram entretanto integradas para utilizadores pessoais, como a possibilidade de publicar conteúdos temporários de estado, que se tornou rapidamente popular, ou a opção de seguir empresas ou pessoas de modo privado, com os Canais.

No segmento empresarial passaram a existir diferentes produtos pagos, que ajudam as marcas a transformar o WhatsApp num canal de comunicação com os clientes. Marcas como a Chevrolet, Lenovo, Samsung ou L’Oreal já os usam.

Uma destas ferramentas é um formato de anúncio “click-to-message”. Pode ser usado em publicações no mural do Facebook. Quando o utilizador lá carrega é direcionado para uma conta da marca no WhatsApp, onde assistentes de apoio ao cliente ajudam a comprar um produto ou reservar um serviço.

Este formato publicitário é hoje aquele que mais cresce no universo Meta, até pelo potencial associado. A Nissan no Brasil, por exemplo, tem usado a rede social para integrar chatbots que falam com o cliente, esclarecem dúvidas e direcionam-no para um revendedor. Segundo a marca, até 40% das leads de vendas no país já passam por este canal.

Nikila Srinivasan, vice-presidente da Meta, revelou entretanto que as ferramentas profissionais do WhatsApp já são usadas por 200 milhões de empresas e que o plano da companhia passa por reforçar estas ferramentas. A mesma responsável disse que a Meta está a trabalhar com parceiros no desenvolvimento de uma infraestrutura de pagamentos, que permita fazer compras diretamente dentro do WhatsApp.

Pelo caminho, para esta nova vida do WhatsApp, o grupo fundado e liderado por Mark Zuckerberg terá de gerir alguns desafios regulatórios, como as obrigações impostas pelo novo Regulamento para os Mercados Digitais na Europa. Nesse sentido, já começou o trabalho técnico para permitir a integração com outros serviços de chat e assegurar que quem usa a plataforma possa enviar mensagens para quem usa outros serviços do género.