O Banco Português de Fomento apresentou recentemente uma candidatura em Bruxelas para a instalação de uma gigafábrica de dados em Sines, projeto que ronda os 4 mil milhões de euros, avança o Dinheiro Vivo. Portugal terá de concorrer com mais de 20 candidaturas entregues ao EuroHPC, das quais serão escolhidas pelo menos cinco para serem montadas na Europa.

Portugal tem vindo a captar alguns destes investimentos, como é o caso do Start Campus em Sines, sinal que o país está a despertar o interesse. Em entrevista, à publicação de economia, Tiago Cortez, capital markets associate da Savills, diz que os diversos projetos em fase de planeamento ou desenvolvimento são sinais de que Portugal está a consolidar o caminho para se tornar um hub digital de referência no sul da Europa.

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Já Augusto Lobo, da capital markets JLL, aponta que a localização geográfica é uma vantagem, tanto a nível do clima, como os custos competitivos de instalação. A boa conectividade internacional, destacando-se os cabos submarinos que passam pelo país, assim como a capacidade crescente de produção de energia verde são fatores que reforçam o interesse dos investidores estrangeiros. Foram vários os analistas que apontam Portugal como estando no bom caminho para atrair o interesse na construção de centros de dados.

Porém, a grande concorrência surge bem ali ao lado, de Espanha, que tem vindo a apostar em energias renováveis, que é apontado como critério relevante na escolha da localização. Mas tem também a capacidade de produzir energia nuclear, algo que Portugal não tem.

O consultor Tiago Cortez admite que a Espanha conta com uma atuação coordenada por parte das autoridades, a nível central, como regional. Além disso, compreendem bem o sector e estão igualmente empenhados em atrair os grandes investimentos. E dá o exemplo de como Aragão teve o envolvimento do presidente do governo regional para atrair projetos de grande dimensão, como os campus de IA da Microsoft e da Blackstone.

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Os analistas apontam Espanha como tendo um mercado mais maduro, com maior escala económica, regulamento mais estabilizado e incentivos públicos para a transformação digital. Fala-se em como os investidores olham para Espanha como o ponto no qual se serve o mercado ibérico.

O eixo da Grande Lisboa até Sines são vistos como trunfos para Portugal atrair investimento, caso consiga assegurar disponibilidade de potência elétrica. Também o Norte, nos locais com acesso a infraestruturas enérgicas robustas estão a ganhar atenção. Mas terão de ser as câmaras municipais e o Governo a atrair, assim como reter estes investimentos, notam os consultores. É preciso mais lotes industriais, maior celeridade no licenciamento dos projetos, mas também a criação de habitação próxima com acesso a transportes. Por fim, mais incentivos fiscais que sejam competitivos.

Apesar do posicionamento de Portugal e Espanha, há um fator que está a condicionar o futuro investimento de empresas dos Estados Unidos na Europa, ou neste caso na Península Ibérica: a pressão de Donald Trump em querer manter em "casa" as suas fábricas e investimentos. A Broadcom acaba de anunciar que as negociações com a Espanha falharam para a construção de uma fábrica de semicondutores, refere a Europa Press, citando fontes anónimas.

O projeto, que havia sido anunciado há dois anos, fechado entre o CEO da Broadcom, Charlie Kawwas e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, naquele que seria um orçamento de 850 milhões de euros. Outros projetos semelhantes, que visavam criar consórcios entre empresas dos Estados Unidos e a Espanha parecem ter colapsado, assim como outros projetos europeus, exatamente desde que Trump assumiu a Casa Branca.