A Lenovo continua a ser a líder indiscutível a nível mundial na venda de computadores, responsável por quase um quarto do mercado, mas nos últimos anos a empresa tem vindo a transformar-se e adaptar-se para novas áreas de negócio. E a principal razão é que apesar da sua confortável posição, o mercado dos computadore está estagnado.

Durante a Web Summit, Art Hu, Senior Vice President e Chief Information Officer da Lenovo sentou-se à mesa com alguns jornalistas portugueses para explicar a nova posição da empresa e a sua estratégia para o futuro, projetando as áreas onde quer investir nos próximos 10 anos. Art Hu explica que a sua função é manter a empresa “a funcionar”, nas suas várias ramificações de negócios, sejam eles internos ou com parceiros externos. O seu desafio é manter a casa produtiva, mas também segura. Por outro lado, tem também como missão garantir a transformação da Lenovo, e enquanto a mantém rentável, alicerçar os pilares do presente, com os olhos postos no futuro.

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Art Hu, Senior Vice President e Chief Information Officer da Lenovo.

E o executivo chinês chegou a Lisboa para confirmar que as pessoas conhecem muito pouco a empresa para além dos computadores, e nem sequer sabem muito bem que os smartphones Motorola fazem parte da família. E isto para não dizer do total desconhecimento dos data centers, supercomputadores e investimentos gerais que a fabricante tem feito em prol das smart cities. E essa é a imagem que quer clarificar nos próximos anos.

A estratégia 3S

De forma a dar a conhecer os novos produtos e serviços, a Lenovo tem uma estratégia que chamou de 3S Strategy, composto por três pilares. O primeiro “S” passa pelas Smart IoT, levando a empresa a pensar naquilo que as pessoas necessitam para manter os seus aparelhos conectados. Art Hu esclarece que não pretende investir em cada segmento, entre os smart speakers, TVs inteligentes ou computadores, por exemplo. A sua ideia é tentar mudar aquilo que sabemos da definição de PC de Personal Computer para Personal Computing, uma pequena variação da palavra, mas que quer dizer muito: significa introduzir inteligência artificial para controlar todos os dispositivos conectados. Não só as caixas conectadas, mas tudo.

O segundo “S” assenta em Smart Infrastructure, e neste caso o negócio passa pelos supercomputadores, as cloud privadas, e tudo o que esteja associado e a beneficiar com o 5G. Incluem ainda computadores Edge, num negócio que vai explodir nos próximos 10 anos com a quinta geração móvel.

Por fim, o terceiro pilar “S” é a Smart Industry, e neste caso procurar responder às necessidades das empresas através de tecnológicas assentes em IA e Big Data para criar modelos preditivos e antecipar os problemas antes deles surgirem, podendo assim tomar ações automáticas e aumentar o tempo de resposta, originando maior produtividade. Esta área de negócio é uma espécie de “bola de cristal” que serve para criar forecasts, previsões de quando substituir o hardware recorrendo a dados. Ou mesmo, tentar antecipar as compras sazonais, tentar compreender atempadamente se consegue lançar um produto a tempo do Natal.

Homem e máquina alinhados para maior desempenho

Durante a conversa, Art Hu abordou o tema sensível acerca do nervosismo presente nas pessoas, pelo pensamento de virem um dia a ser substituídas pelas máquinas, cada vez mais inteligentes. A posição da Lenovo é de inclusão, ou seja, um modelo em que as máquinas e os técnicos têm de trabalhar em cooperação, ajustando-se para maior eficácia e produtividade, invés de algo apenas feito por um computador e outra por uma pessoa.

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A Lenovo apostou na Web Summit para mostrar os seus novos produtos.

No léxico da Lenovo, IA significa no fundo “augmented”, ou seja, a partilha entre homem e máquina, levando as pessoas a tornarem-se produtivas “de uma forma muito interessante” sublinha o executivo. E dá exemplos de como pode ser feita essa simbiose: o controlo de qualidade é muitas vezes difícil utilizando métodos manuais, por isso, se um técnico for auxiliado por uma máquina com uma câmara, consegue localizar artigos com defeito rapidamente. Da mesma forma o seu serviço de data intelligence pretende ser aplicado a serviços de help desk, por exemplo.

Com este conceito, Art Hu considera atualmente a Lenovo uma empresa muito diferente do que há dois a três anos. E isso deve-se à estagnação do mercado do PC, mas sobretudo porque o futuro está a mudar e “se as empresas não mudarem, então fecham”. E como a empresa já tem uma fatia considerável do mercado, com uma base de assets e dispositivos, pretende agora adicionar mais valias aos seus clientes, sobretudo no advento do 5G.

Art Hu refere ainda como a Lenovo leva a segurança a sério, considerando que os sistemas são adicionados no primeiro momento de conceção da sua arquitetura, construindo-os com as melhores práticas, e não considera uma medida exclusiva da empresa, já que globalmente todos os players necessitam atualizar-se, pois assim o obriga o ecossistema. “Basta um pequeno problema para colocar em causa um grande produto”, salienta. E dá o exemplo que não existem produtos verdadeiramente impenetráveis, ou não viríamos as gigantes Google ou Apple a lançar atualizações de segurança mensalmente para os seus dispositivos.

No entanto, a Lenovo continua empenhada não só a trabalhar com parceiros e sistemas crowd sourcing, para ajudar a testar os seus produtos, como a empresa paga prémios aos “bounty hunters” para descobrirem problemas e vulnerabilidades.

A Lenovo tem ainda um programa nas primeiras fases de teste chamado Lenovo One, que no fundo é tentar melhorar algo tão simples como a conectividade entre os smartphones. “Todas as marcas e fabricantes continuam a tentar conectar os seus dispositivos ao Windows, mas não há ninguém que tenha conseguido oferecer um sistema ideal. Na nossa visão, os smartphones são apenas um ecrã, e que não deveria haver tantos problemas de conectividade quando se quer passar coisas tão simples como fotografias para o PC”, refere o executivo. Na sua ideia, o sistema deve permitir utilizar os melhores componentes dos dispositivos conectados, como por exemplo, tirar partido da câmara potente do smartphone para utilizar no PC, mas numa experiência fluída, seamless…

Por fim, a sua visão de IoT, mas do lado do consumidor, a empresa está mais preocupada em investir em plataformas unificadoras, do que propriamente em acrescentar mais dispositivos concorrentes no mercado. “Hoje em dia ainda é um pesadelo construir uma smart home, para mim foi, e por isso estamos mais interessados em participar com soluções unificadoras”…