Basta um microfone, para a MEDgical AI captar o som durante a consulta. O áudio é em seguida analisado por Inteligência Artificial para gerar automaticamente registos clínicos, que, até agora, eram digitados pelos médicos nos teclados dos computadores nos gabinetes e consultórios.

Com a nova ferramenta “o médico pode sair do computador e sentar-se à frente do doente, falar livremente com ele, sem se preocupar com as notas que tem de tirar”, explica o cofundador e CEO da MEDgical, Bruno Castilho, que desenvolveu a app em parceria com um engenheiro informático. Na prática, a utilização de IA reduz o tempo gasto pelos médicos no tratamento de tarefas administrativas e permite tornar as consultas mais humanizadas.

Além da humanização, Bruno Castilho destaca ainda a otimização dos recursos. “Se tivéssemos 20% dos médicos no país a usar a aplicação, seria possível fazer mais 2,5 milhões de consultas”, defende. “Os médicos passam mais de metade do tempo a tratar de trabalho administrativo, representando 30 milhões de horas médicas desperdiçadas em funções não relacionadas com a atividade médica”, acrescenta.

A MEDgical AI está em fase de projeto-piloto na Joaquim Chaves Saúde, desde 2 de setembro. Daniel Ferreira, coordenador do Serviço de Cardiologia e coordenador médico do Serviço de Informação Clínica da Joaquim Chaves Saúde (JCS), foi o pioneiro a utilizar esta ferramenta. Após assegurar-se da inexistência de constrangimentos legais, “utilizei a plataforma com todos os meus doentes, em mais de uma centena de consultas, com um grau de satisfação tanto meu e como dos doentes muito elevado”.

Atualmente, a ferramenta está a ser utilizada por cinco médicos cardiologistas e de Medicina Geral e Familiar.  A intenção é alargar o uso da ferramenta para o máximo de especialidades e médicos possível.

A aplicação faz os registos pelo médico, usando um microfone de mesa ligado ao computador e uma página de Internet com login de acesso. “A partir daí, a ferramenta começa a ouvir e, no final, pedimos para gerar as notas, em 20 segundos”, explica Daniel Ferreira.

Veja no vídeo a demonstração da app em funcionamento:

Os dados captados pela MEDgical não são guardados, permanecendo por isso confidenciais, sem necessidade de integração com o software da instituição de saúde. Além disso, a solução foi desenvolvida tendo em conta normas de cibersegurança e o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD).

A aplicação beneficia ainda a saúde mental dos profissionais de saúde. “Sabemos que mais burocracia aumenta o risco de burnout e de erro médico. Com esta tecnologia, os médicos libertam-se do trabalho burocrático e sentem-se muito melhor. Porque querem é tratar doentes, não é lidar com papéis”, conclui Bruno Castilho.

A jusante, a app resolve também o problema de transmissão de informação entre médicos, sobretudo de diferentes especialidades. “A MEDgical toma notas clínicas, pelo que a informação transmitida é de qualidade, diminuindo bastante o risco de erro clínico, porque não há interpretações deficientes da informação que está escrita”, acrescenta o CEO.

A MEDgical conquistou o 3.º lugar na edição de 2023 do BI Award for Innovation in Healthcare, uma iniciativa da Boehringer Ingelheim, com o apoio institucional da Ordem dos Médicos, subordinado ao tema “Sustentabilidade para um futuro comum”.