O relatório EU Kids Online voltou a analisar os “usos, competências, riscos e mediações da internet” entre os mais novos em Portugal e foram cerca de 2.000 rapazes e raparigas, entre os 9 e os 17 anos, que responderam e disseram de sua justiça sobre o assunto, principalmente sobre o que os incomoda quando navegam na internet.

Nos dados relativos a 2018, crianças, pré-adolescentes e adolescentes mostraram-se críticos em relação à partilha online de conteúdos pessoais sem o seu consentimento, principalmente no que diz respeito ao sharenting: as publicações feitas pelos pais e educadores.

São 28% aquele que indicam que os pais publicaram textos, vídeos ou imagens sobre eles sem lhes perguntarem se estavam de acordo. De acordo com o relatório, 14% pediram aos pais para retirar esses conteúdos, sendo que essa situação é referida por quase um quinto das raparigas entre os 13 e os 17 anos, aponta a LUSA, citando o documento.

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Os resultados mostram ainda que 13% dos inquiridos reportaram ficar incomodados com a partilha sem consentimento de informação pessoal, sendo que essa partilha partiu de professores em 7% dos casos.

Seis por cento referem ter recebido mensagens negativas ou ofensivas por causa de desses conteúdos publicados pelos pais, com os rapazes a reportarem praticamente o dobro deste tipo de situação face às raparigas".

"A partilha de conteúdos por parte de amigos sem que o próprio dê consentimento é uma prática que também caracteriza a relação de amizade: 25% assinalam que os amigos publicaram coisas sobre si sem lhes perguntarem primeiro se estavam de acordo, com diferenças significativas por idade e género. Essa prática é mais referida nos 13-17 anos e mais por raparigas (36%) do que por rapazes (28%)", acrescenta-se.

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O documento revela igualmente que em relação a estudos anteriores mais do que duplicou a percentagem de crianças e jovens se afirmam ter sentido perturbados com a exposição a conteúdos negativos.

Em termos globais, a percentagem passou de 7% dos inquiridos em 2010, 10% em 2014 para 23% em 2018.

Sobre bullying, o relatório indica que o fenómeno está em crescimento, com 24% das crianças e jovens portugueses reportarem terem sido vítimas de bullying - tanto “dentro” como “fora” da internet - no último ano.

"No seu conjunto, estes valores mais do que duplicaram em relação a 2010 e 2014", constata-se, precisando ainda o relatório que "para 29% dos inquiridos o bullying ocorre com bastante ou muita frequência, tanto online como offline", e que "o bullying através de meios tecnológicos predomina sobre o bullying cara a cara".

Só 25% dos jovens confia nas notícias

Segundo o relatório, “um terço concorda com a afirmação de que pode confiar na maioria das notícias que ‘escolhe’ ler ou ver – quase sem variação de idade e género, valor que desce para um quarto no que se refere à confiança nas notícias em geral”.

O resultado mais expressivo aponta a não tomada de posição – cerca de 40% assinalaram a opção ‘não concordo nem discordo’, refere o relatório ressalvando o módulo dedicado à Cidadania Digital, respondido apenas por metade das crianças e jovens entre os 11 e 17 anos, às quais foram “colocadas questões sobre confiança nas notícias e sobre a distinção entre realidade e ficção”.

De uma forma genérica os inquiridos afirmam maioritariamente (52%) que consideram ser “fácil verificar se a informação que encontram na Internet é verdadeira”, ainda que existam variações significativas entre rapazes e raparigas na confiança nessa capacidade de destrinça (as raparigas sentem menos segurança do que os rapazes).

As percentagens baixam significativamente se a pergunta se centrar nos meios de comunicação: menos de um terço afirma que pode confiar nas notícias que escolhe ler ou ver, e o total baixa para um quarto se a pergunta for sobre a confiança na generalidade das notícias.

Pouco mais de metade (53%) considera bons os meios noticiosos tradicionais, como a televisão, a rádio e os jornais, por ajudarem a distinguir a realidade da ficção.

Já a confiança no papel das redes sociais para essa mesma tarefa é bastante mais baixa, com apenas 28% a afirmarem concordância com a premissa de que Facebook, Twitter ou Instagram, por exemplo, podem ajudar a uma clarificação entre realidade e ficção.