A Google realizou em Lisboa, no Pavilhão Carlos Lopes, mais uma conferência dedicada às tecnologias em torno da computação em cloud, machine learning e inteligência artificial, com especial realce da sua utilização pelas empresas portuguesas. O evento Cloud Day reuniu executivos das empresas, engenheiros, parceiros e clientes, mostrando como a solução Google Cloud pode transformar as empresas, sejam elas pequenas ou grandes, em qualquer sector de atividade.

Jorge Reto, head of Google Cloud em Portugal, voltou a assumir o palco, ano e meio depois da divisão ter chegado a Portugal, manifestando felicidade por ter “o dobro das pessoas registadas no evento do ano passado”. Jorge Reto destacou que este Cloud Day é o evento mais importante da gigante tecnológica em Portugal, com o nosso país a ser o primeiro país a nível mundial a realizá-lo.

Já Bernardo Correia, Country Manager da Google em Portugal, refere que o Digital em Portugal já vale 4,6% da economia, embora esteja atrás de outros países europeus. Comparativamente, a Itália tem 5%, a Espanha 6,4% e o Reino Unido tem 13,8%. Foi mencionado os Youtubers portugueses como uma nova geração de colaboradores e produtores de conteúdo. O Digital gera 2,5 mil milhões de euros de receitas das empresas portuguesas, o equivalente a 71 mil empregos.

A Google salientou que Portugal deve redobrar a aposta num conjunto de facilitadores para explorar ao máximo o potencial do digital. Segundo a empresa, o papel da Google é acelerar o ecossistema digital em Portugal, seja através do Android Training Program Portugal, o Atelier Digital e o Digital News Initiative onde se treinam as pessoas para os desafios ligados à segurança, programação e outras iniciativas digitais.

O Google Cloud é, claro, uma aposta crítica na estratégia da Google. Um exemplo mencionado sobre a sua penetração em Portugal foi a parceria com o Ministério da Cultura para a digitalização de cerca de 3.000 obras disponibilizadas no Google Arts & Culture, onde se incluem uma vasta coleção de azulejos. Uma das novas funcionalidades é o “Self Art”, em que através de uma fotografia do utilizador a Cloud cruza com a base de dados e encontra uma obra de arte parecida com o utilizador, recorrendo a machine learning – os resultados do teste de Bernardo Correia não foram os mais aliciantes para o mesmo, destacando em tom de brincadeira, que o machine learning ainda tem um longo caminho a percorrer.

A Google manteve um discurso em torno de como “tudo na indústria está a ser digitalizado”, e que todas as empresas estão a tornar-se uma “empresa de dados”, ou seja, a transformarem-se em plataformas, com experiências para os seus clientes. Destaca ainda o papel dos CIO como operador de confiança, capazes de liderar a transformação digital. Mas para tal, a Google afirma que é necessário ter a tecnologia correta, embora compatível com a cultura.

O sucesso da adaptação do cloud requer que os líderes de tecnologia se tornem os próprios condutores da mudança de cultura. A Google refere que 75% das médias e grandes empresas terão adotado a estratégia multicloud até 2021. E segundo a visão da Google, esta divide-se em três partes: infraestrutura distribuída a uma escala global, plataforma de transformação digital e soluções industriais para a transformação digital.

E para ajudar as empresas, a Google pretende oferecer novas experiências aos seus clientes, redesenhar os seus modelos de negócio e, acima de tudo, transformar a sua cultura. Para tal, a Google comprometeu-se a investir 45 mil milhões de dólares nos últimos três anos em tecnologia cloud. Um dos exemplos dados foi o serviço de gaming em streaming, o Stadia, apresentada recentemente na GDC.

A Google anunciou ainda mais de 130 novos produtos e serviços este ano, por exemplo, a nível de segurança e modernização de infraestruturas. “Estamos a investir em pessoas”, refere o interlocutor da Google, em engenheiros, consultores, arquitetos, suporte técnico e serviços profissionais, para destacar alguns. A empresa destaca o trabalho feito com algumas das maiores empresas mundiais, e claro, em Portugal.

A Google apresentou a segurança como um dos seus pontos fortes na escolha dos seus clientes, ainda que admitindo que não é perfeita. Os sistemas híbridos e multi-cloud ajudam na escolha por não se sentirem presos a uma única solução. A inteligência artificial e os sistemas de machine learning foram também salientados. Por fim, a capacidade de oferecer produtos sem a complexidade das redes, servidores e o que está relacionado com as grandes estruturas TI. Por fim, a empresa compromete-se em oferece o “melhor da Google”, ou seja, toda a sua experiência nos 20 anos em que desenvolve tecnologia.

Javier Martinez, Customer Engineer, destacou a importância da modernização da infraestrutura das empresas, migrando para as soluções da Google. As ferramentas, disponibilizadas gratuitamente, permitem às empresas uma migração segura e fácil, e foi dado como exemplos a SAP na Google Cloud, assim como o Windows, bastante utilizado nas empresas, também suportado pelos serviços da Google Cloud Platform.

Mas como operar num ambiente híbrido? A nova solução multicloud da Google chama-se Anthos, que permite correr os serviços tanto na cloud, como nos sistemas físicos das empresas. Esta solução é baseada em open source e permite aos utilizadores aplicarem em qualquer local, dando liberdade para mudarem entre as suas estruturas de forma segura. De salientar a segurança, com os dados sempre do lado das empresas, mas com a proteção de terceiros pela Google.

Carlos Salgueiro, Customer Engineer Google Cloud, referiu alguns conceitos de modelos Serverless, ou seja, correr código como serviço, utilizado em apenas um evento, por exemplo. Os clientes pagam apenas pelo tempo de uso do código, e não por toda a infraestrutura associada.

Case Studies de empresas portuguesas que já utilizam Google Cloud

Renato Gomes, Corporate Accounts do Google Cloud Portugal, destaca a área de produtividade, com alguns exemplos práticos que as empresas podem introduzir, o chamado G Suite. A empresa afirma que desde que entrou na área de colaboração, criou ferramentas de raiz para fazer frente às necessidades do mercado, com assistência em tempo real. A capacidade de indexação e pesquisa proporcionada pelo Google Search é dado como uma vantagem da sua solução, tornando-se inteligente e proactivo na ajuda às empresas.

José Vera, da José de Mello Saúde, destaca as suas 20 unidades (18 privadas e duas públicas), referindo que opera a 24/7, utilizando 72 aplicações críticas para a prestação dos cuidados de saúde, com 5.700 pontos de trabalho e 4.500 impressoras. Perante este ambiente, a unidade de saúde necessita de agilidade, e para tal passou para a G Suite, com Chromebooks e CloudReady.

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A primeira missão da empresa era conter custos no crescimento de IT, mas por outro lado aumentar a resposta do posto de trabalho e dos respetivos profissionais. José Vera destaca a facilidade e a diminuição do tempo utilizado nas atividades, sobretudo quando era preciso trocar uma máquina, antes perdia tempo a passar dados e a configurar. Neste momento basta desligar a máquina avariada e trocá-la por outra, porque estas não contêm dados, estão ligados à Cloud. Além disso, no que diz respeito à segurança, caso roubem uma máquina, levam-na “vazia”.

Marcel Smit, CEO da Energy Worx, uma empresa ligada à energia, analisa os respetivos dados gerados. Para fazer frente ao crescimento da quantidade de dados, a empresa teria de aumentar o número de máquinas, espaço e funcionários. Ao mudar para o G Suit, a empresa passou a gerir elementos como armazenamento e inteligência artificial com maior facilidade, refere o executivo. O menor custo de operações com a solução da Google, perante o número de ferramentas disponíveis, foi o segundo motivo por tornar-se um parceiro da Google Cloud. A empresa tem um projeto grande com a EDP, para a introdução dos medidores inteligentes. E a empresa está a empregar.

Em entrevista ao SAPO TEK, Jorge Reto fez um balanço positivo do primeiro ano, destacando que mais importante que os objetivos financeiros, “e esses estão bem, pois estamos a fazer os números que a Corporate nos pede”, era cimentar a área de parceiros e fazer crescer a rede de parcerias. O head da Google Cloud em Portugal destacou que já existem muitas certificações e muitos técnicos certificados em Google Cloud. Uma das preocupações era dar a conhecer a Google Cloud e depois fazer o mercado perceber que a empresa está, no campo tecnológico, pelo menos ao nível de outros “cloud providers”, mas que em diversas áreas são líderes, “e estamos a conseguir passar essa mensagem”, salienta, e a consolidar a sua rede de parceiros. Mas ainda há muito para fazer, ressalva.

Questionado sobre se as empresas portuguesas já compreendem as vantagens da Google Cloud, Jorge Reto acredita que sim, mas que se trata de um processo, e que a adoção à cloud ainda é muito baixa, em termos percentuais face ao que existe “on premisse” espalhados por data centres. Jorge Reto refere que a adoção do cloud, a nível mundial, está nos 9%, com os Estados Unidos a registar mais utilizadores que a Europa. “As empresas começam cada vez mais a falar nisto e vemos organizações muito grandes a dizerem que vão meter 80/90% dos seus sistemas todos na cloud”, mencionando ainda que já foram ultrapassadas as interrogações sobre a estabilidade e segurança dos serviços.

tek cloud day

Jorge Reto acredita que o “click” que falta na evolução e o caminho a fazer é o tipo de abordagem que se faz à cloud: “ainda se faz uma abordagem de infraestrutura”, dando o exemplo da Energy Worx, que numa primeira decisão foi para a AWS numa mudança de infraestrutura, mas depois depararam-se com a solução de cloud 2.0 da Google, que basicamente é serverless, ou seja, sem a necessidade de preocupação com a infraestrutura, mas sim com os serviços disponíveis. “Se é necessário Analytics os clientes pagam por query, e têm recursos ilimitados pelo mundo inteiro, se desejarem aplicações também não há limite, e neste caso dou o exemplo do Pokémon GO, que quando foi lançado utilizou a nossa tecnologia”, destaca o executivo.

Nesta visão, a Google pretende que as empresas prescindam do investimento feito em servidores e os respetivos custos, e que pensem naquilo que realmente precisam para o seu negócio numa adoção de cloud serverless. Um exemplo dado é que uma empresa muito pequena consegue desta forma competir com uma grande utilizando os mesmos recursos, e num exemplo prático, uma pequena mercearia pode montar o mesmo chat bot inteligente e automático que uma enorme cadeia de hipermercados para desenvolver o seu negócio…