À medida que os avanços na exploração espacial permitem expandir os limites daquilo que outrora não era possível, aproximamo-nos de um futuro que cada vez mais parecido a um filme de ficção científica. Ainda antes de o palco Deep Tech abrir para a discussão da sustentabilidade no espaço, Roberto Trotta deu a conhecer a uma “casa cheia” a forma como as inovações tecnológicas estão a transformar o mundo da astronomia.

Tal como indica o professor de astroestatística no Imperial College, em Londres, a cosmologia é um ramo da astronomia que passou por uma grande evolução. Atualmente, a utilização de avançados métodos de inteligência artificial está a ajudar os investigadores a descobrir oque existe para lá do nosso céu, o qual representa apenas 5% de todo o universo.

A “dark energy”, por exemplo, é uma das questões que tem vindo a intrigar os investigadores desde os anos 90. Segundo Roberto Trotta, a combinação da recolha de dados espaciais com IA permitiu aos especialistas conseguir obter novas informações neste domínio. Mas esta não a única aplicação da tecnologia: esta já é capaz de criar simulações realísticas do espaço através de Generative Adversarial Networks.

O desenvolvimento da inteligência artificial em astronomia pode até ser útil para resolver alguns dos problemas que este tipo de tecnologia apresenta atualmente, indica o professor de astroestatística. O “biased IA” é algo que pode ter um impacto negativo no tratamento de certos segmentos da população, no entanto pode ser resolvido através da aplicação de alguns dos métodos que estão a ser postos em prática por cientistas para reconhecer as estrelas.

A inovação tecnológica abriu o espetro das possibilidades de exploração, no entanto Roberto Trotta relembra que “com um grande poder vem uma responsabilidade ainda maior”, sendo que as futuras aventuras espaciais estarão dependentes da forma como tratamos o espaço.

A poluição não é só um problema terrestre. Os especialistas indicam que existem cerca de 8.000 toneladas de detritos a orbitar no espaço a velocidades superiores a 28.000 quilómetros por hora.

Imagine que conduz o seu carro até o combustível acabar e o abandona num qualquer lugar. Agora considere que milhões de pessoas faziam a mesma coisa, deixando as estradas completamente assoberbadas. A poluição espacial é semelhante à metáfora que Peter Martinez, Diretor Executivo da Secure World Foundation, usou para abrir a sessão dedicada à discussão da sustentabilidade no espaço.

Os detritos espaciais podem ser prejudiciais não só aos projetos que estão em órbita, mas também ao nosso planeta. Tal como alerta Holger Krag, Head of Space Safety na Agência Espacial Europeia (ESA), o lixo está a uma distância muito mais curta do que se pensa. A poluição gera apenas mais poluição, indica o responsável, elucidando que apenas “um único fragmento é capaz de destruir um satélite”.

Para dar uma dimensão das consequências de o lixo espacial pode ter, Holger Krag relembra uma colisão grave em 2009 que deixou uma nuvem de detritos perto de satélites da ESA, algo que a levou a ter que realizar manobras para evitar a colisão todas as semanas até aos dias de hoje.

De acordo com Holger Krag, a ESA quer garantir a sustentabilidade das futuras missões e está a apresentar um projeto para a remoção de detritos espaciais. Para além da agência, existem empresas à semelhança da Astroscale, fundada por Nobu Okada, que estão a desenvolver tecnologia para eliminar o lixo de forma segura e responsável.

A Astroscale concentra-se em duas áreas: a remoção de detritos futuros, a qual lidará, por exemplo, com a "morte" dos satélites da SpaceX ou da Amazon) e a dos que já existem. Segundo o seu CEO, esta não é uma tarefa fácil, considerando o seu constante movimento. No entanto, a tecnologia da empresa só se tornará numa realidade “daqui a sete anos”.

“É necessário encontrar um equilíbrio entre a inovação e a sustentabilidade” para garantir o futuro da exploração espacial, afirma Peter Martinez, sendo que tal passará pela regulamentação e pela integração de políticas de responsabilidade para as empresas que lançam satélites.

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