A Europa tem um ecossistema de I&D subutilizado que enfrenta obstáculos, apresenta clivagens profundas e persistentes em matéria de I&D que revelam uma estrutura estratificada na UE, existindo ainda um fosso tecnológico relativamente a outras regiões do mundo.

São estes os principais desafios do setor da ciência, investigação e inovação na União Europeia, apontados no Relatório de desempenho Ciência, Investigação e Inovação (SIRP) 2024, apresentado nesta quinta-feira pela Comissão Europeia.

Se, em 2022, a quarta edição deste relatório bienal recomendava aos investigadores encontrar soluções para atravessar crises inesperadas (como foi a pandemia COVID ou o início da guerra na Ucrânia), este ano reflete sobre um contexto de longo prazo.

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A União Europeia é um dos principais focos mundiais de investigação científica, mas há obstáculos que devem ser ultrapassados para ser possível tirar o máximo partido deste ecossistema de investigação e inovação atualmente subutilizado. Tendo em conta que o objetivo dos Estados-membros é atingir 3% do PIB em matéria de investigação e desenvolvimento, as disparidades de esforços afastam-no cada vez mais.

“Temos de intensificar os esforços na Europa para atingir o objetivo de investimento de 3% do PIB em Investigação e Desenvolvimento (I&D) e apresentar soluções inovadoras”, comenta Iliana Ivanova. A comissária responsável pela Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude acrescenta que é essencial reforçar as capacidades científicas e tecnológicas da Europa, a ação complementar nos níveis da UE, nacional e regional. Estes esforços “são essenciais para a resiliência e competitividade atuais e a longo prazo”.

O segundo desafio apontado pelo relatório é o fosso persistente em matéria de investigação e inovação. Lê-se no relatório que “as atividades de I&D têm tendência a concentrar-se em determinados locais, o que pode ser reforçado através da prestação de apoio às atividades e intervenientes com melhores resultados”.

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Finalmente, a União Europeia está ainda afastada em termos tecnológicos quando comparada com outras regiões. Um dos fatores que contribui para este desfasamento tecnológico são as complexidades no aumento do investimento do sector privado em investigação e inovação na UE. O estudo revela, no entanto, que, apesar de ainda haver necessidade de progressos no domínio digital, os progressos europeus na transição ecológica têm sido elevados.

Os desafios são grandes, mas quais são concretamente as forças e fraquezas do desempenho da investigação e Inovação na União Europeia? Os dados mostram que a UE mantém a liderança no registo mundial de patentes relacionadas com energias renováveis (29%) e eficiência energética (24%).

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Em matéria de produção científica, a UE só é ultrapassada pela China, representando 18% da produção científica mundial. A UE e os EUA têm, cada um, uma quota de cerca de 10% das publicações científicas mais citadas, mas a China está em primeiro lugar.

O relatório indica que, em comparação com os EUA e a China, a UE é menos especializada em tecnologias-chave de aumento da produtividade, em especial nos domínios da inteligência artificial, da Internet das Coisas, das tecnologias de blockchain e dos computadores quânticos.

Finalmente, o mercado de capital de risco na UE é ainda limitado quando comparado com outras regiões do mundo, dificultando os investimentos privados em empresas inovadoras.

O relatório SRIP analisa a dinâmica da investigação e da inovação e os seus motores na UE. Combina uma análise baseada em indicadores com uma análise aprofundada de questões políticas atuais e tem como destinatários principais investigadores e inovadores, decisores e analistas económicos e financeiros.

O relatório 2024 pode ser consultado na íntegra na página da Comissão Europeia.