Numa operação conjunta entre várias polícias europeias, foi hackada uma plataforma de comunicação encriptada que estava a ser utilizada por milhares de criminosos em todo o mundo. Em consequência, as autoridades conseguiram aceder a milhões de mensagens que, de outra forma, não conseguiriam obter. O sucesso da operação foi anunciado numa conferência de imprensa em Haia, na sede da Eurojust, o órgão de cooperação judiciária entre países europeus.

No Reino Unido, 746 suspeitos foram detidos na sequência de uma análise às mensagens obtidas. A polícia britânica conseguiu ainda apreender 77 armas de fogo, 54 milhões de libras e vários quilos de estupefacientes. O hack à plataforma em questão, que dá pelo nome de Encrochat, levou também a várias dentenções em França, Noruega, Suécia e Holanda. Neste último, foram desmantelados 19 laboratórios de drogas sintéticas, detidos mais de 100 suspeitos e apreendidos cerca de 8 mil quilos de cocaína, 1,2 toneladas de cristal de metanfetamina, 25 carros e quase 25 milhões de euros.

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A Encrochat não era apenas um software de messaging, mas um programa de distribuição de smartphones modificados que garantiam maior segurança ao utilizador. A empresa por detrás deste esquema instalava o seu próprio software de mensagens nos equipamentos, retirava o GPS, a câmara e o microfone, e incluia outras funcionalidades, como a possibilidade de apagar todos os dados do telefone com apenas um PIN. Na prática, estes telefones serviam para pouco mais do que chamadas e mensagens. Para ter acesso a um destes dispositivos, o utilizador tinha de pagar uma subscrição anual que ascendia aos milhares de euros.

As autoridades começaram a recolher informações através da Encrochat no início de abril, logo depois de a desencriptação ter sido concluída. O método que lhes permitiu aceder à plataforma não foi revelado, mas sabe-se que esta foi entretanto desmantelada.

Este tipo de plataformas de comunicações encriptadas não é uma novidade. Já em 2018, o FBI deteve Vincent Ramos, o CEO da Phantom Secure, empresa que comercializava smartphones BlackBerry modificados a membros de cartéis de droga. Ramos confessou o crime e explicou que os telefones eram ajustados às necessidades dos traficantes, de forma a facilitar a venda de estupefacientes. Caso os telefones fossem apreendidos pela polícia, a tecnológica podia simplesmente apagar o seu conteúdo remotamente.

Note que, nos EUA, está a ser estudado um novo projeto-lei para a penalização de empresas que recorram às encriptações de ponta a ponta. Em teoria, a iniciativa legal pode enquadrar criminalmente as atividades de organizações como a Encrochat e a Phantom Secure, mas a não especificidade da lei pode complicar a vida das tecnológicas que usam esta tecnologia para tornar as suas aplicações mais seguras.