A Vodafone está a assinalar em outubro os 33 anos de operação em Portugal, somando a herança da Telecel à contabilização dos anos depois da compra do Grupo Vodafone, com a mudança de nome para Vodafone Portugal a concretizar-se em 2001.  Num encontro com jornalistas onde o TEK Notícias participou, Luís Lopes destacou hoje os pontos altos da história da empresa e mostrou alguma dificuldade em apontar os pontos baixos, assumindo que mesmo o ciberataque de que a empresa foi alvo em 2022 teve pontos positivos e que a Vodafone "conseguiu dar uma resposta extraordinária".

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A decisão de investir em fibra, num movimento diferenciador da lógica do grupo, que originalmente estava muito focado na tecnologia móvel, é um dos marcos apontados pelo CEO da Vodafone Portugal. "Exigiu convencer os acionistas de que havia futuro em investir na fibra", defendeu, admitindo que "se fosse no contexto atual seria difícil".

O próprio grupo tem passado por várias transformações, optando por sair de alguns países e avançar em vários mercados em parceria. Atualmente Luís Lopes diz que na, estrutura do Grupo Vodafone, Portugal é o quarto país mais relevante.

Questionado quando aos cenários de fusão e consolidação do mercado, apontados no relatório Draghi como obrigatórios para a Europa, o CEO da Vodafone Portugal reconhece que o mercado europeu tem um problema estrutural de falta de escala das empresas que sustentem investimentos a longo prazo. E em Portugal? Depois de ter visto a proposta de compra a Nowo chumbada, Luís Lopes diz que a escala é mais importante a nível local e lembra que a maioria dos países tem apenas 3 operadores, sublinhando que, em Portugal, "a longo prazo não há mercado para 4 operadores de telecomunicações". "Algo vai ter de acontecer", admite. 

Neste caso a Vodafone seria comprador ou vendedor? O CEO da empresa não se compromete, mas lembra que "pela posição que tem em Portugal" a Vodafone é "muito forte" e que isso a torna "muito apetecível", colocando-a em "posição de potencial consolidador". Mesmo assim não é um cenário a colocar a curto prazo.

"No curto prazo não acho provável [...] no longo prazo é inevitável", afirmou Luís Lopes aos jornalistas sobre uma possível consolidação dos operadores portugueses.

A regulação foi mais uma vez alvo de críticas, pela "falta de visão da indústria" e de garantia de previsibilidade regulatória. A aproximação do prazo de renovação das licenças de espectro, já em 2028, é uma das preocupações, já que não existe clareza sobre qual o modelo a adotar para esta renovação.

Confrontado com o impacto da entrada da Digi no mercado, com uma oferta de preços baixos, Luís Lopes sublinha que a Vodafone não concorre pelo preço mas pela qualidade, e diz que "por enquanto o novo entrante não teve um impacto tão grande", e que não houve redução significativa do número de clientes.

Ciberataque, apagão e cenários de um terramoto em perspetiva

O ciberataque que em 2022 deitou abaixo a rede da Vodafone Portugal foi um dos temas da conversa de hoje com os jornalistas e Luís Lopes destacou como ponto baixo da história da empresa, mas sublinhando que também foi um ponto alto pela "resposta extraordinária" que a Vodafone deu. Na altura a forma como a operadora encarou a crise foi elogiada, tornando-se um caso de referência.

A análise do incidente já permitiu identificar qual foi a origem e como aconteceu o ataque, informação que está em segredo de justiça. Adianta porém que se sabe que foi um ator externo, de uma organização de hackers que não está ligada a nenhum estado, e que teve "milhões de euros de custos".

"Existiam fraquezas internas [...] muitas que existem noutras empresas portuguesas", reconhece Luís Lopes.

Mais recente, o apagão da rede elétrica foi também um dos temas abordados na conversa com os jornalistas, pelo impacto que teve na rede móvel, um colapso grave, generalizado e histórico. Os clientes da Vodafone foram os que mais rapidamente deixaram de ter rede, e o CEO da empresa diz que "caiu mais rapidamente do que desejaríamos e em alguns sítios demasiadamente rápido" e admitiu que alguns sites se desligaram ao fim de 15 minutos do apagão elétrico, enquanto outros 40 a 50% conseguiram manter-se funcionais apenas durante duas horas.

"No dia seguinte autorizámos um investimento significativo no reforço da rede", explicou, sem querer detalhar números que foram na ordem dos milhões de euros. "Em alguns sites com peso muito significativo colocámos geradores", explica, adiantando que isso aconteceu "em largas dezenas de locais" e noutros foram adicionadas baterias com capacidade para 8 horas.

"Temos 5.5oo sites e não é possível fazer resiliência energética em todos para tantas horas", justifica. Recorde-se que a ANACOM emitiu uma série de recomendações para que os operadores móveis venham a reforçar a capacidade de se manterem operacionais em casos de falhas na rede elétrica e que esse poderá ser um dos argumentos a utilizar no futuro para renovação de licenças.

Se em vez de um apagão o país fosse confrontado com um terramoto os danos seriam maiores, até nas infraestruturas de rede fixa, mas o CEO da Vodafone lembra que o grupo já mostrou capacidade de instalar redes redundantes alternativas em vários casos, como aconteceu no terramoto da Turquia, garantindo conetividade para as equipas de emergência e os clientes.

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