O grupo de serviços digitais da Apple avisou, na última terça-feira, que cerca de 100 colaboradores iriam ser despedidos. Tudo indica que a decisão tenha que ver com um aparente esforço de otimização de custos e com uma possível mudança de prioridades naquela divisão crítica para a empresa.

A informação é avançada pela Bloomberg, citando pessoas com conhecimento do assunto, que preferiram não ser identificadas, porque a medida ainda não foi tornada pública. A área de serviços digitais é liderada pelo vice-presidente sénior, Eddy Cue, e os despedimentos afetam principalmente a aplicação Apple Books e a respetiva loja.

Como parte de uma “mudança de prioridades”, a Apple deu aos colaboradores avisados um prazo de 60 dias para assegurar outro cargo na Apple antes de o seu despedimento se tornar efetivo. Alguns dos funcionários trabalhavam em várias equipas, pelo que outras áreas também foram tangencialmente afetadas.

Em abril, a Apple despediu 700 funcionários depois do encerramento do projeto de carro elétrico. No entanto, na altura, a Apple terá reintegrado muitos dos profissionais em outras divisões da empresa, incluindo na inteligência artificial e em aparelhos robóticos domésticos. A empresa também dispensou colaboradores com o encerramento da iniciativa microLed Display e com o desmantelamento da equipa baseada em São Diego.

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A área de negócio dos livros digitais foi introduzida em 2010 pelo então CEO Steve Jobs, aquando do lançamento do iPad e terá começado com cerca de 30 mil títulos gratuitos. A Apple Books teria como objetivo ser um “Kindle-killer”, um leitor eletrónico de livros lançado pela Amazon três anos antes, em 2007, explica o TechCrunch, algo que não aconteceu. Pouco tempo depois do lançamento do serviço de eBooks da Apple, a Google também apresentou o seu modelo de comercialização de eBooks que tem o mesmo público-alvo da Amazon e da Apple nesta área.

Tendo em conta estes despedimentos, a Apple Books não será uma área de investimento para a Apple a partir de agora. Além desta área de negócios, também a equipa Apple News, entre outras equipas de serviços, está a ser afetada pelos despedimentos. De qualquer modo, a app Books ainda deverá ter novas funcionalidades ao longo do tempo. Na área de Apple News, os despedimentos são uma indicação de que são menos prioritárias para a Apple, disseram as fontes contactadas pela Bloomberg.

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Os lucros da Apple subiram 7%, para 73.237 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano fiscal de 2024, anunciou a empresa no início do mês de agosto. A receita líquida de 296.105 milhões de dólares, registada entre outubro de 2023 e junho deste ano, corresponde a mais 8% do que no mesmo período do ano anterior. Nessa altura, os serviços representaram 22% das vendas da empresa, um aumento significativo dos 10% registados há uma década. O TechCrunch acrescenta que uma parte significativa desse volume de negócios é proveniente, provavelmente, das compras na aplicação e das subscrições da App Store.

Acresce ainda que a Apple está a passar por um momento de incerteza em matéria de serviços, devido às alterações legislativas na União Europeia. Este ano, a Apple já anunciou uma série de mudanças na App Store na UE, com a entrada em vigor da Lei dos Mercados Digitais (DMA na sigla original para Digital Markets Act), em 7 de março. No entanto, logo em junho, a Comissão Europeia apontava problemas “muito sérios”, por não estarem em total conformidade com a nova legislação. No final de junho, e depois de vários avisos à Apple de que não estava a cumprir as regras definidas no DMA, a Comissão Europeia (CE) confirmou que a Apple viola a DMA e, depois de uma investigação preliminar, avançou com novas análises que podem culminar com a aplicação de multas.

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Após este anúncio da CE, a Apple preferiu adiar a utilização de três novas ferramentas de inteligência artificial no iPhone, iPad e Mac na União Europeia, afirmando que a culpa é das regras de interoperabilidade impostas pelo executivo da UE. Entretanto, na sequência de vários avisos da Comissão Europeia sobre as violações ao regulamento dos mercados digitais (DMA), a Apple mudou as suas políticas para a União Europeia, permitindo aos developers comunicar com os seus clientes fora da app.

Algumas das empresas de Silllicon Valley, onde a Apple tem a sua sede, estão a eliminar postos de trabalho em muito maior número, à medida que enfrentam o abrandamento do crescimento e a mudança para a inteligência artificial. A Cisco Systems está a reduzir cerca de 7% o número de efetivos, enquanto a Intel está a eliminar mais de 15%.