Francisco Albuquerque e Daniel Estima sempre gostaram de aventuras. Depois de um interrail pela Europa, a vontade de descobrirem o mundo e de saírem da sua zona de conforto levou-os lançar o projeto AndaMente no YouTube há três anos. Mas um grande desafio ainda estava para vir: ir de Lisboa até ao Qatar à boleia, tudo com o objetivo desejar boa sorte a Cristiano Ronaldo e apoiar a seleção portuguesa no mundial de futebol.

A Francisco e Daniel juntaram-se mais dois amigos, Duarte Delgado e Bruno Carvalho. Em 50 dias, percorreram 15 países e mais de 8.000 quilómetros. Entre momentos altos e baixos, e numa viagem repleta de histórias para contar, sempre conseguiram chegar ao Qatar.

“Foi, no fundo, um ‘abre olhos’ para aquilo que estaríamos a perder se efetivamente só ficássemos em Portugal e se não tivéssemos curiosidade para perceber o que se passa lá fora”, conta Francisco Albuquerque ao SAPO TEK. Entre “tantos países, pessoas e culturas diferentes” é “uma aventura que vamos levar para sempre, porque todas as experiências que vivemos foram incríveis”, realça.

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Pelo caminho também houve surpresas positivas. Passar pela Arábia Saudita não estava nos planos iniciais do grupo, que tencionava seguir caminho pelo Irão. “Dado aos conflitos que estavam a ocorrer no país acabamos por mudar a nossa rota”, recorda o jovem.

O país acabou por superar as suas expetativas. “As pessoas eram genuinamente simpáticas connosco, ofereciam-nos tudo e mais alguma coisa: davam-nos comida, casa, boleia. (...) Nós não estávamos à espera de sermos recebidos daquela forma: como convidados na casa deles, tranquilamente, e eles nunca duvidaram das nossas razões. Nenhum de nós sabia o calor que íamos receber lá”.

Mas, durante a viagem, o grupo foi também confrontado com algumas das duras realidades que se vivem pelo mundo fora, como a crise de refugiados. Antes de atravessarem a fronteira entre a Bulgária e a Turquia, os quatro jovens pensavam que tudo ia correr tranquilamente, mas o que se passou foi bem diferente do que estavam à espera.

“Quando chegámos lá, percebemos a dimensão daquele problema, que é real e que está a acontecer neste momento”, detalha Francisco. São muitos os migrantes que tentam atravessar a fronteira para chegar à União Europeia. O controlo na zona é apertado e os jovens viveram momentos tensos com as autoridades locais, que pensavam que eram refugiados.

“Houve ali situações com armas em que ficamos mesmo a pensar ‘okay, isto vai correr mal'”, admite o jovem. No entanto, tudo acabou por correr bem: “graças a Deus que temos o passaporte português que nos salva de muita coisa”.

Uma coisa é certa: pelo longo caminho que percorreram, o grupo teve a oportunidade de aprender muitas lições e Francisco recorda duas: “uma mais tensa e outra mais ‘alegre’”. A primeira foi-lhes passada por um ex-refugiado albanês durante uma boleia.

“A vida é cruel: esta é uma frase que nos marcou ao longo da nossa viagem, porque assistimos a várias realidades e percebemos que, lá está, a vida é cruel e nós temos de estar prontos para isso. (...) Por mais dor que sintamos em alguns momentos, temos de continuar”.

Já a segunda lição, “It’s a numbers game” ou “é tudo uma questão de tentativas” numa tradução mais livre para português, era muito quando estavam à procura de boleias. “Às vezes estávamos cansados, já não nos apetecia apanhar mais nada e só nos apetecia ir para casa, mas estávamos sempre com aquele pensamento: é uma questão de continuarmos a tentar”.

Esta é uma das lições que acabámos por usar para tudo e para o nosso projeto em si. Se não tivermos sucesso com um, dois, três vídeos é uma questão de tempo até que, eventualmente, um deles vá conseguir”.

Depois do Qatar, o que reserva o futuro?

O feedback que têm recebido, tanto da mais recente série com a aventura até ao Qatar, como de outros vídeos no canal, tem sido positivo e “as pessoas têm gostado deste tipo de contéudo”. “Nós fomos sempre inspirados pelos Yes Theory, pelo que essa malta consegue fazer lá fora e queríamos muito trazer esse espírito para Portugal”, explica o jovem.

“As pessoas gostam, querem ver mais e dizem mesmo que «finalmente há este tipo de conteúdo em Portugal» e a nós só nos dá mais força para continuar a produzir, porque é aquilo que queremos mesmo fazer”, realça. Outro dos fatores que a dupla de criadores de conteúdo sente que ajuda a aprofundar a relação com a comunidade é transformar os projetos de vídeo em séries, como aconteceu com a aventura ao Qatar.

De momento, tanto Francisco como Daniel têm profissões paralelas ao projeto no YouTube. Um trabalha como freelancer na área de edição de vídeo e o outro como engenheiro biomédico. O apoio das parcerias é fundamental para conseguir tornar este plano numa realidade e a equipa está a trabalhar para reforçá-las. "Se nós conseguíssemos ter essa garantia era muito mais fácil dar o salto para 'full-time'”.

“Ainda estamos com uma perna em trabalho e outra no projeto, mas sentimos que este ano vai ser possível começarmos a fazer isto mesmo a 100%”.

O que reserva o futuro para o projeto AndaMente? Para já, o canal está em “pausa”, mas, como detalha Francisco, regressa ao ativo ainda em janeiro com mais vídeos.

Depois do sucesso com a série de vídeos da viagem até ao Qatar, Francisco admite que a dupla entrou numa espécie de “período de reflexão” marcado por dúvidas em relação ao futuro do canal. “Fizemos esta série que está a ter este impacto: agora, como é que vamos voltar?”.

Depois de refletir, a equipa chegou à conclusão que o melhor era mesmo deixar essas dúvidas e não ficar agarrado ao sucesso de uma série para guiar o que vão fazer ao longo dos próximos tempos. “Vamos deixar isso de lado e vamos focar-nos no que queremos fazer”. Entre os planos que têm delineados para os próximos tempos incluem-se “algumas ideias para Portugal”, com competições e desafios para “sair da zona de conforto”, mas também para os PALOP.