André, Eduardo, João, Manuel e Tiago são os cinco primeiros alunos a terminarem o curso na 42 Lisboa. Os finalistas, que começaram o curso em 2021, contam ao SAPO TEK como a experiência na escola tecnológica lhes abriu novas oportunidades de carreira, mas também de aprofundarem os seus conhecimentos.

André Hernandez, de 21 anos e natural do México, estudou Engenharia Informática no ISCTE e estava a trabalhar como freelancer em projetos com a framework Ruby on Rails. No entanto, a experiência no ensino superior deixou-o desiludido. O jovem apercebeu-se de que a preparação que estava a ter para o mundo do trabalho não era a mais adequada, chegando à conclusão de que era uma “perda de dinheiro, tempo e esforço”.

À semelhança de André, Eduardo Julião, de 19 anos e natural do Brasil, também fazia alguns trabalhos enquanto freelancer, neste caso, como fullstack developer enquanto terminava o secundário. À procura de dar seguimento aos seus estudos, Eduardo decidiu entrar na 42 Lisboa em vez de ingressar no ensino superior convencional.

Escola 42 Lisboa | Finalistas
Eduardo Julião (à esquerda), Tiago Santos (ao centro); e André Hernandez (à direita).

João Ceia e Manuel Sousa, ambos de 35 anos, também já trabalhavam em tecnologia, um na área de data science numa empresa de gestão de investimentos em meios e publicidade e outro como engenheiro de software numa fintech startup em Bruxelas, respectivamente, mas sentiam a necessidade de aprofundar os seus conhecimentos.

Ainda antes de entrar no mundo da tecnologia, Manuel tinha passado por outras áreas e, curiosamente, foi também uma experiência numa escola tecnológica que o tinha levado à sua anterior profissão na startup Abbove, anteriormente conhecida como Paxfamilia. "Fui chefe de cozinha durante 4 anos, trabalhei em hotéis, restaurantes, cruzeiros e pop ups. Depois fiz o bootcamp da LeWagon e encontrei um colega belga lá que me recomendou ao CTO da Paxfamilia”.

Ao contrário dos seus colegas finalistas, Tiago Santos, de 31 anos, trabalhava como estofador fabril antes de ingressar na 42 Lisboa. “Passei por vários empregos que pertenciam maioritariamente à indústria fabril, e o último que tive não foi excepção”, reconta. Sem um curso universitário sentia dificuldade em encontrar um emprego em outras áreas: “não via a minha vida profissional nem pessoal a avançar naqueles meios”.

Desafiante, mas muito gratificante: a experiência na 42

A 42, que conta com um programa gratuito, com as propinas a serem pagas por mecenas, está aberta a todos, não exigindo um background académico ou experiência em programação. Para entrarem na escola, os candidatos precisam de ter, pelo menos 18 anos ou o 12º ano completo, demonstrando que são proactivos, curiosos, criativos e dedicados, mas também que gostam de trabalhar em equipa.

O seu modelo é um pouco diferente de outras escolas ou cursos tecnológicos, com uma metodologia que assenta numa experiência à base de projetos e na aprendizagem em conjunto entre os alunos.

Depois de passarem dois testes online e de completarem um bootcamp de 26 dias, onde têm a oportunidade de aprender as bases de programação e de descobrirem se esta é mesmo a opção ideal a seguir, os alunos da 42 dão início ao curso, que demora entre 12 a 18 meses a terminar, caso sejam dedicadas 40 horas semanais ao programa.

42 abre portas da escola de programação em Lisboa com novos mecenas
42 abre portas da escola de programação em Lisboa com novos mecenas
Ver artigo

A partir daí, os alunos seguem para a sua primeira experiência profissional, tendo a possibilidade de regressar depois à 42 para fazerem uma especialização em áreas como inteligência artificial, cibersegurança, web development ou data analytics. Tal como sucede na primeira etapa do curso, os alunos também têm de fazer uma experiência profissional para poderem receber um certificado, neste caso, de especialização.

Os primeiros finalistas da 42 descrevem a sua experiência como desafiante e intensa, mas também muito gratificante. “Na altura em que me candidatei tinha consciência que o curso iria ser desafiante, em grande parte, por causa da minha inexperiência”, explica Tiago.

“O processo de aprendizagem para executar os projetos propostos pela escola foi um dos maiores desafios que enfrentei. Devido à mentalidade que adquiri a trabalhar em fábricas, de cumprir horários, exigências e em parte de não querer voltar, ajudou a superar qualquer desafio”, realça.

A flexibilidade na metodologia de aprendizagem é outro dos pontos realçados pelos alunos que terminaram o curso na 42. Além disso, como salienta Eduardo, a forma como o curso está estruturado dá aos alunos a oportunidade de aprenderem uns com os outros e de ganharem novas habilidades e métodos de estudo em áreas que vão além da programação permitindo desenvolver competências “sociais, linguísticas e profissionais”.

O que reserva o futuro para os finalistas?

Com o curso terminado, quatro dos finalistas já estão a trabalhar na sua área de formação e Tiago vai integrar a equipa da 42 como Junior Lifeguard na 42 Porto. Embora admita que o seu futuro após terminar o estágio ainda seja incerto, o finalista afirma que “a área de programação é muito vasta” e todos os dias descobre algo novo que lhe interessa.

Tanto André como Manuel querem continuar a aprofundar as suas competências tecnológicas na escola e, no caso do segundo finalista, o objetivo passa por pedir equivalência ao mestrado. Eduardo tenciona aproveitar para se dedicar às especializações, sobretudo em inteligência artificial e sistemas operativos. Já João quer mesmo criar a sua empresa de tecnologia.

Quer reconverter a sua carreira para a tecnologia? Tudo o que precisa de saber
Quer reconverter a sua carreira para a tecnologia? Tudo o que precisa de saber
Ver artigo

Mas o que recomendam os finalistas a quem quer está interessado em mudar de vida e reconverter a sua carreira para a tecnologia? João lembra que é necessário avaliar bem se este é o rumo a seguir. A partir daí, caso decidam embarcar numa nova aventura de aprendizagem, “ter foco e disciplina para cumprir os objectivos a que se propõem” é fundamental.

“Simplesmente façam-no”, afirma Tiago, acrescentando que se alguém não está satisfeito com o que está a fazer ou, então, está à procura de algo mas não sabe exatamente o quê, fazer um curso como o da 42 “abre portas para um novo mundo de oportunidades”.

“Embora não acredite que seja para qualquer pessoa, não perdes nada em experimentar", enfatiza André. "Podes preparar-te para muito fracasso, muita aprendizagem, pessoas novas e frustração. Mas no final vem uma recompensa maior".