Por Fernando Monteavaro (*) 

Já se passaram alguns anos desde que a Tecnologia se tornou um elemento-chave da estratégia da empresa, relativamente à vantagem competitiva sustentável. No período anterior, a Tecnologia era essencialmente um elemento para otimizar processos / atividades de valor não essencial ou de valor não acrescentado. As empresas procuravam obter eficiências para fornecer os seus produtos / serviços a um preço de mercado aceitável, orientando a sua estratégia de liderança de custos e sendo capazes de crescer organicamente sem um incremento no custo fixo.

No entanto, a Tecnologia não é, em si própria, uma vantagem competitiva sustentável, é na verdade uma commodity, no sentido de que atualmente é mais económica; por existirem muitas opções no mercado é, de uma forma geral, mais acessível. Na minha opinião, o que está a proporcionar uma vantagem competitiva sustentável é a integração desta tecnologia na cadeia de valor da empresa.

Vivemos, neste momento, na era dos dados, o que significa que as empresas têm de lidar com toneladas de dados provenientes de várias fontes importantes (por exemplo, IoT, compras online, redes sociais, entre outras). Mais uma vez, não é o armazenamento de dados que vai ajudar as empresas na sua estratégia, é a utilização desses dados e a sua integração na cadeia de valor (por exemplo, de que forma os dados de saúde dos clientes provenientes das aplicações de saúde são utilizados para os seguros).

Por exemplo, a MetLife já está a usar ferramentas de Big Data em Hong Kong para ajudar a oferecer proteção a doentes com diabetes que, anteriormente, não conseguiam ter um seguro. Desta forma, os clientes podem registar os seus dados de saúde e, obviamente, gerir a sua doença de uma forma mais simples e efetiva. Consequentemente, este grupo de pessoas passa a poder usufruir, de uma forma mais económica, de proteção em termos de saúde (seguro).

Tendo esta realidade em mente, vejo a Inteligência Artificial (IA) como uma oportunidade para atingir a vantagem competitiva da empresa. Machine Learning, Processamento de Linguagem Natural (NLP na sigla em inglês) e Robôs vão desenvolver a inteligência coletiva nas empresas, integrando robôs a colaborar com seres humanos (um fator crucial) e, consequentemente, transformando as tarefas diárias.

Sim, parece ser verdade que a IA assumirá algumas das nossas tarefas diárias e, provavelmente, algumas funções na sua totalidade (especialmente, as que sejam repetitivas e isentas de interação com o ambiente envolvente), mas também é verdade que vai criar novos serviços e, portanto, vai facilitar a criação de novos empregos e funções em todas as empresas. Obviamente que tal não vai acontecer da noite para o dia, uma vez que ainda existem áreas por desenvolver, não apenas do ponto de vista técnico (integração no ambiente), mas também no que respeita à ética (como regular o comportamento dos carros autónomos em situações perigosas quando tem de ser feita uma escolha entre diferentes cenários possíveis).

Apenas para ilustrar esta ideia, a primeira experiência com um carro autónomo aconteceu em 1995, e mesmo agora, mais de 20 anos depois, não está totalmente implementado na nossa vida diária. No fim de contas, vivemos agora uma era empolgante de transformação enorme, e devemos estar preparados, não apenas do ponto de vista empresarial, mas também a nível pessoal, já que definitivamente vão ser necessárias novas capacidades.

(*) Head of Iberia Regional Application Development e IT Digital EMEA