Mais de uma centena de concorrentes da empresa, mais precisamente 135, consideram que as alterações feitas pela Google para deixar de favorecer os seus serviços nos resultados de pesquisa do motor de busca foram insuficientes e alegam que continuam a ser prejudicadas pelas práticas da gigante norte-americana.

As queixas fazem parte de uma carta enviada às autoridades da concorrência da União Europeia, onde pedem uma nova investigação à empresa e novas regras para regular a ação da Google neste campo. Assinam a carta empresas como a Trivago, Expedia ou TripAdvisor e muitas outras, que põem em causa a legitimidade da estratégia da Google para crescer no mercado das pesquisas em sectores específicos como o do turismo, emprego, aviação, etc.

As signatárias defendem que a caixa de informação que a Google apresenta à direita dos seus resultados de pesquisa (OneBoxes) lhe dá uma vantagem para direcionar tráfego de pesquisa em mercados verticais, que nenhum concorrente pode replicar ou igualar.

Google "recusa" multa recorde de mais de 2,4 mil milhões na Europa
Google "recusa" multa recorde de mais de 2,4 mil milhões na Europa
Ver artigo

“Estas OneBoxes estão posicionadas de forma proeminente acima de todos os resultados de pesquisa [...] nenhum serviço concorrente tem a capacidade de fazer acompanhar os resultados gerais de uma pesquisa no Google com uma caixa deste tipo, mesmo apontando para conteúdo mais relevante que os serviços da Google”, refere a carta.

“Se a Google tiver permissão para continuar este favorecimento anti-concorrencial dos seus serviços de pesquisa especializada até que alguma regulação de relevo produza efeitos, os nossos serviços vão continuar a perder tráfego, dados e oportunidade de inovar por mérito próprio”, acrescenta a carta.

Contactada pela Business Insider, a Google já reagiu à iniciativa dizendo que “as pessoas esperam que a Google lhes apresente os resultados de pesquisa mais relevantes, de melhor qualidade e mais confiáveis. Não esperam que demos preferência a empresas ou rivais específicos em vez de outros, ou que paremos de lançar serviço úteis que criam mais escolha e competitividade para os europeus”.

A Comissão Europeia confirma que já recebeu a carta e adiantou ao Tech Crunch que vai responder “na devida altura”. A CE pode agora considerar que não há matéria para seguir adiante com novas investigações, ou apurar que há indícios de práticas anti-concorrenciais e desencadear um novo processo que, mostra a história, não será breve, nem barato - a confirmarem-se as acusações - já que as multas da concorrência europeia são definidas em proporção do volume de negócios das empresas visadas.

Se o processo avançar para investigação aprofundada, terão de ser ouvidas as várias empresas que assinaram a carta. Haverá espaço para a Google se pronunciar e propor remédios e, finalmente, será avaliada a extensão dos danos alegadamente causados à concorrência e proferida uma decisão.

Na condenação da Google em 2017, por práticas anti-concorrenciais na gestão de resultados de pesquisa, ficou provado que a empresa dava primazia à sua ferramenta de comparação de preços. "A Google abusou da sua posição dominante no mercado de motor de busca, conferindo uma vantagem ilegal a outro produto Google, o seu próprio serviço de comparação de preços", referia na altura o comunicado.

As empresas que assinam agora a carta defendem que as medidas definidas nesta altura para corrigir a situação são poucas e ineficazes e não conseguiram impedir a empresa de usar o mesmo tipo de estratégia com outros produtos.

A Google teve entretanto mais dois processos na concorrência europeia, relacionados com o Adsense e o Android.