A Agência Espacial Europeia deu “luz verde” ao contrato de 129,4 milhões de euros com a alemã OHB para o desenvolvimento do projeto, fabrico e testes da missão Hera. A primeira missão de defesa planetária da ESA conta com a participação das portuguesas Efacec, GMV e Synopsis Planet, que serão responsáveis pelo desenvolvimento de alguns dos elementos fundamentais para o sucesso da missão. Ao todo, as três empresas portuguesas vão ganhar 2,9 milhões de euros.

A sonda é a contribuição europeia para o projeto internacional que pretende desviar um asteroide da rota de colisão com a Terra e realizar o estudo de um sistema de asteroides duplo conhecido por Didymos. A ESA cumprirá a segunda fase de uma missão partilhada com a NASA.

Na primeira fase da missão, marcada para a segunda metade de setembro de 2022, a Agência Espacial Norte-Americana fará um Double Asteroid Redirect Test (DART), onde se prevê que a nave enviada colida com o menor dos dois corpos a uma velocidade de cerca de 6,6 km/s.

Dois anos após a colisão do DART, a missão Hera vai proceder ao levantamento detalhado dos efeitos do impacto com o objetivo de transformar a experiência numa técnica que permita desviar asteroides sempre que seja necessário.

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Os sistemas binários de asteroides representam cerca de 15% de todos os asteroides conhecidos, mas esta será a primeira vez que se fará a sua aproximação e exploração. Estima-se que em 2022 o sistema binário chegue a cerca de 16 milhões de quilómetros da Terra.

O corpo principal, de tamanho semelhante a uma montanha de 780 metros de diâmetro, é orbitado por uma lua de 160 metros, aproximadamente com a mesma dimensão da Grande Pirâmide de Gizé.

O que é que as empresas portuguesas vão desenvolver?

De acordo com Vasco Granadeiro, responsável pelo departamento de aeroespacial da Efacec citado em comunicado, o contrato com a OHB representa a “segunda maior encomenda de sempre em mais de 15 anos de atividade”.

Na nova missão, a Efacec vai desenvolver um altímetro LIDAR, um “equipamento baseado em tecnologia laser capaz de medir distâncias até 20 quilómetros com uma precisão de 10 centímetros”, explica Vasco Granadeiro. O altímetro vai permitir fazer o estudo do asteroide, assim como recolher dados que serão usados pelo sistema de navegação do satélite.

A contribuição da Efacec traduz-se no PALT (Planetary ALTimeter). Para o desenvolver, a empresa lidera um consórcio composto por mais uma empresa portuguesa, a Synopsis Planet, duas empresas romenas (Efacec-Roménia e INOE) e uma empresa da Letónia (Eventech).

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Já a GMV Portugal será responsável por desenvolver “um sistema autónomo altamente inovador de Orientação, Navegação e Controlo (GNC na sigla inglesa) para garantir o sucesso da missão”, elucida João Branco responsável do segmento Espaço da empresa.

“Somos responsáveis pelo sistema de controlo de manobras orbitais a bordo, incluindo a definição de estratégias de navegação híbrida entre o Segmento de Terra e o sistema de Controlo Automático GNC da nave”, indica o responsável.

A operação de aproximação e navegação em torno de asteroides é um grande desafio devido às gigantescas velocidades e distâncias que o corpo celeste se encontra da Terra. Segundo João Branco, o desafio pode ser comparado a "fazer acertar uma bala disparada a 2 kms noutra bala disparada a igual distância”.

A Synopsis Planet, spin-off da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, vai desenvolver o laser microchip do altímetro da Efacec, além de participar na criação do front-end ótico. “O laser que estamos a desenvolver é um laser microchip, que gera pulsos de laser de 1535nm de 2ns e é usado como a fonte de luz do altímetro”, explica Paulo Gordo, fundador da startup e membro da equipa científica da ESA que trabalha na missão Hera.

“As empresas portuguesas passaram os últimos anos a acumular experiência, conhecimento e a desenvolver as competências necessárias para a criação de soluções ímpares, que começaram por ser pequenos projetos e que hoje são essenciais em alguns sistemas e subsistemas de grandes missões internacionais”, explica Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa.

O presidente da Portugal Space afirma ainda que a agência quer “contribuir para o esforço global de combate a possíveis ameaças contra a Terra, quer ajudando a dar visibilidade internacional às competências da indústria portuguesa, quer reforçando o conhecimento da comunidade científica nacional em torno de um tema que será fundamental para o futuro do planeta”.

Para acompanhar o esforço europeu e contribuir para o desenvolvimento de competências do setor espacial português, Portugal contribuiu, na última Cimeira Ministerial da ESA, Space19+, com um total de 2,8 milhões de euros para a missão Hera.