A partir do centro de comando do JPL tudo foi acompanhado ao segundo, com as confirmações dos instrumentos e com demos sobre os vários momentos chave, mas as imagens reais da "amartagem" só vão chegar à Terra amanhã.

"Confirmamos que o Perseverance está vivo no solo de Marte", foi a confirmação da parte da transmissão de acompanhamento, com uma primeira imagem enviada a partir das câmaras do rover.

Este é um mês em grande para Marte com a chegada ao planeta de 3 missões internacionais. A missão da China, a Tianwen-1, já chegou na semana passada à órbita do planeta, tal como a Amal dos Emirados Árabes Unidos, e ambas já enviaram imagens, mas só a missão chinesa tem planos para colocar um robot no terreno de Marte. E por isso também hoje é um dia importante, com a Perseverance a planear uma missão histórica, com a possibilidade de retorno de amostras de Marte.

Esta soma o conhecimento adquirido em quase 60 anos de experiências científicas e exploração do planeta vermelho, e que preparam também as primeiras missões com a participação de humanos previstas para 2030, depois de um passo importante que é voltar a colocar humanos na Lua em 2024.

Hoje todos os olhos têm estado centrados na missão que transporta o veículo robótico Perseverance, e que teve a sua prova de fogo na entrada na atmosfera e e depois pousar com sucesso em solo marciano. Depois de “queimar” os últimos quilómetros de distância - dos cerca de 470 milhões que o separaram inicialmente do seu destino -, a chegada ao solo do Planeta Vermelho aconteceu como estava previsto antes de 21 horas(hora em Portugal) desta quinta-feira, e tudo foi acompanhado na transmissão online das últimas horas da missão, que teve início às 19h15.

Ao longo das horas de acompanhamento foram sendo dadas várias confirmações de que tudo estava a correr como previsto. A menos de 20 minutos da chegada do rover a solo marciano, a informação que estava a chegar ao centro de controle, com 11 minutos de atraso, era positiva. Como referiam os comentadores, o Perseverance estava a fazer "tudo o que o ensinámos a fazer nos últimos anos".

O ponto crítico foram os últimos 7 minutos, desde que entrou na atmosfera até que pousou no solo marciano, que já foram referidos como os 7 minutos de terror porque é aqui que tudo pode falhar.

Centenas de coisas que têm de correr bem para que a missão seja um sucesso, até porque cerca de metade das tentativas de explorar Marte até agora acabaram por falhar. Nos últimos minutos foi preciso que a sonda abradasse de uma velocidade cerca de 19 km por hora até 5 km por hora para conseguir uma "amartagem" suave.

E tudo correu bem. Houve suspiros de alívio, palmas e até se esqueceram algumas das restrições do distanciamento social.

Pode continuar a acompanhar a missão Mars 2020 Perseverance aqui

Uma preparação de vários anos

O lançamento da missão Mars 2020 Perseverance aconteceu em julho de 2020, desde Cabo Canaveral, mas os preparativos da viagem até Marte e dos vários instrumentos científicos a bordo remontam a vários anos antes.

Enquanto esteve a ser preparado para as exigências da missão todo o terreno que o espera, o veículo robótico de dimensão próxima à de um automóvel ganhou pernas e rodasum braço até um helicóptero. Também teve de “treinar alguns “moves”, de passar em testes de condução e, mais recentemente, de aprender a manter o equilíbrio.

Nestes e em vários outros instrumentos e tecnologias assentam as capacidades que vão permitir ao rover da NASA cumprir o seu principal objetivo de procurar por sinais de vida em Marte. Enquanto isso, vai tentar compreender melhor a geologia do planeta vermelho, recolhendo e armazenando, com a ajuda de uma broca, amostras de rocha e solo que poderão ser devolvidas à Terra posteriormente.

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Entre os vários recursos que o apetrecham, o Perseverance “guarda” um scanner de ambientes habitáveis e ferramentas para análise da composição química de corpos rochosos ou para mapeamento contextual da geologia e do clima do planeta vermelho, tentando perceber a evolução dos mesmos. Também integra uma unidade que será capaz de produzir oxigénio a partir da atmosfera de dióxido de carbono de Marte.

Além disso, o rover “marciano” tem várias câmaras ao seu serviço, com capacidades de curta e de longa distância, que servirão para identificar e mapear diferentes elementos e além de uma tecnologia similar a um radar, que lhe permite “desencantar” elementos enterrados.

Estas câmaras foram também fundamentas hoje no momento do rover escolher onde pousar em solo marciano. À medida que se aproximava da cratera Jazero o Perseverance usou as câmaras para escolher melhor a zona mais segura.

Será possível voar em Marte?

Até agora as principais descobertas sobre Marte foram feitas por sondas em órbita, ou por robots no solo, mas a bordo do Perseverance, guardado na sua "barriga", segue uma outra experiência da NASA, o Ingenuity, um pequeno veículo que vai tentar perceber se é possível voar em Marte, recolhendo dados sobre o comportamento de uma aeronave noutro planeta.

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O helicóptero só vai ser ligado mais tarde e a tarefa não se antevê fácil: a atmosfera fina de Marte dificulta a sustentação de qualquer objeto. Como a atmosfera do planeta vermelho é 99% menos densa que a da Terra, o Ingenuity precisa de ser leve, com pás de rotor muito maiores e que giram muito mais rápido do que seria necessário para um helicóptero com a mesma massa na Terra.

O frio será outro dos obstáculos a enfrentar pelas peças do Ingenuity, uma vez que a cratera de Jezero, onde o rover Perseverance irá "amarrar" com o Ingenuity anexado à sua base, pode atingir temperaturas de 130 graus Fahrenheit negativos (90 graus Celsius negativos) durante a noite.

O mini-helicóptero pesa apenas 1,8 kg e é composto por quatro pés, um corpo e duas hélices sobrepostas, medindo apenas 1,2 metros de uma ponta à outra de uma hélice. As hélices giram a uma velocidade de 2.400 rpm (rotações por minuto), cerca de cinco vezes mais rápido do que um helicóptero normal.

Para recarregar as baterias, o Ingenuity está equipado com painéis solares, sendo grande parte da sua energia utilizada para se manter quente na temperatura negativa de Marte, e também pode captar fotografias e vídeos.

Perto de 50 missões a Marte, mais de 50% sem sucesso

A exploração de Marte começou há mais de 60 anos, em 1960, e as primeiras tentativas de abordagem ao planeta vermelho foram da União Soviética. A NASA só fez a primeira viagem a Marte em 1964 com a Mariner 4, que foi bem sucedida na abordagem ao planeta.  Muitas outras missões se sucederam, numa disputa entre os Estados Unidos e a União Soviética, e em 1998 o Japão foi o primeiro país fora deste duo a tentar atingir Marte, mas sem sucesso.

Em 2003 a Agência Espacial Europeia (ESA) colocou em órbita o Mars Express, que continua a rondar o planeta até 2026, mas a missão do rover que levava a bordo falhou. Várias sondas continuam operacionais em órbita, como o InSight, que aterrou em 2018, o ExoMars 2016.

Muitas das missões tinham como objetivo observar o planeta a partir de órbitas baixas, mas outras tentaram "amarar". O Mars Pathfinder, de 1996, foi o primeiro veículo a navegar no solo marciano, e esteve operacional durante mais de 80 dias. Já em 2003 a NASA conseguiu pousar mais dois robots, o Spirit e o Opportunity, que estiveram operacionais por 2208 e 5351 dias marcianos (sols), respetivamente.

Segundo as contabilizações que encontrámos, são cerca de 50 missões ao Planeta Vermelho, e cerca de metade terão falhado os seus objetivos. Mas à medida que a tecnologia avança, e o conhecimento de missões anteriores, existe mais confiança no sucesso da chegada a Marte.

As últimas semanas são marcadas pela chegada a Marte de 3 novas missões, numa corrida sem precedentes à descoberta dos mistérios do planeta. A Perseverance da agência espacial dos Estados Unidos chega uma semana depois da China e dos Emirados Árabes Unidos que também aproveitaram uma janela de lançamento Terra-Marte que ocorre apenas a cada dois anos, enviando as suas missões em julho de 2020, motivo pelo qual as respetivas chegadas são próximas.

A primeira missão a "chegar" a Marte foi a dos Emirados Árabes Unidos, com o objetivo de fazer algumas pesquisas inovadoras sobre a atmosfera do planeta vermelho, "do alto" da sua órbita. Menos de 24 horas depois foi a vez da sonda chinesa, neste caso tocando, efetivamente, solo marciano. Ambas já partilharam imagens.

7 minutos de terror numa aterragem arriscada

Hoje foi a vez Perseverance pousar em Marte, mais precisamente na Cratera Jezero. O momento foi antecedido daquilo que a comunidade cientifica apelida de “sete minutos de terror”: o tempo que a nave demorou a sair da órbita de Marte até tocar solo marciano.

O sensível processo é autónomo, já que é impossível controlar remotamente a descida em tempo real. Isto porque a distância entre os dois planetas faz com que qualquer sinal enviado da Terra leve entre três a 22 minutos para chegar a Marte, e vice-versa. Isso quer dizer que quando a NASA estiver a receber a informação de que foi iniciado o processo de descida, se tudo correr bem, o Perseverance já terá pousado, tal como na simulação em vídeo.

De acordo com o previsto, durante a aterragem a sonda cai na atmosfera marciana, com um escudo de calor primeiro, a cerca de 20.000 quilómetros por hora. Um conjunto de propulsores invertidos ajudou a manter a sonda na sua trajetória e, a uma altura de sete quilómetros, foi ativado um para-quedas supersónico para assegurar uma descida suave, no mesmo momento que o escudo de calor se separa.

No final do processo entrou em ação uma espécie de grua aérea que pousou a sonda com recurso a um conjunto de cabos. O mini helicóptero Ingenuity só será lançado amanhã.

Tudo foi seguido por dados de telemetria, mas amanhã deverão ser partilhadas mais imagens e vídeos captados pelo rover.

Nota da redação: este artigo esteve em atualização permanente desde as 18h30 para acompanhar a chegada do rover da NASA a Marte. Última atualização 21h33.

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