Podemos assumir que um dos maiores calcanhares de Aquiles dos dispositivos móveis é a bateria e como esta se vai desgastando com o uso e o tempo. Uma solução pensada pelos cientistas é a de criarem dispositivos capazes de se autossustentarem a nível energético, ou seja, que não precisem de ser carregados uma vez que conseguem estar constantemente a recolher energia para continuarem a funcionar.

Esta é uma tecnologia que poderá ser mais bem aproveitada no que toca à área da saúde. Estamos, claro, a falar no caso dos pacemakers e de implantes cerebrais como os que Elon Musk quer criar.

Dina El-Damak, professora de engenharia eletrotécnica na Universidade do Sul da Califórnia, defende este tipo de evolução tecnológica, com foco área da saúde, até porque “se um dispositivo está dependente de uma bateria, para a trocar é necessário recorrer a uma cirurgia, portanto providenciar esta opção para equipamentos médicos é uma grande vantagem que pode afetar a vida das pessoas”, conta a professora.

Existem diversas maneiras de um equipamento conseguir aproveitar a energia do próprio corpo humano para “carregar”. Uma delas é a piezoeletricidade, uma energia que é gerada ao aplicar pressão em certos materiais e existe ainda a possibilidade de gerar energia com o movimento mas, especialmente em casos de saúde como o pacemaker, não convém que o aparelho só tenha energia enquanto o corpo se movimenta.

A melhor opção para os cientistas é aproveitar a termoeletricidade, algo mais simples de se conseguir uma vez que a temperatura corporal é, por norma, superior à temperatura externa. Este tipo de energia é gerada através da diferença de temperaturas que é utilizada para criar energia, explicou Daryoosh Vashaee, um engenheiro eletrotécnico da Universidade Estadal da Carolina do Norte, e responsável por criar, em conjunto com a sua equipa, um pequeno aparelho capaz de realizar esse processo.

Apesar de não ser preciso realizar qualquer função para produzir energia através deste método, existe o problema de que é gerada uma quantidade muito baixa de energia, dificultando assim a alimentação de qualquer aparelho. “Os equipamentos estariam a depender de energia criada por uma diferença mínima de temperaturas, por vezes até mesmo só de um ou dois graus”, explicou o engenheiro.

Uma opção que não se baseia simplesmente em ter equipamentos capazes de aproveitar a energia gerada é a de criar aparelhos que precisem de muito pouca energia para se manterem a funcionar, uma questão de otimização de energia, digamos assim.

El-Damak aponta um problema a este tipo de equipamentos que, uma vez mais, responsabiliza as baterias, uma vez que acabam por perder sempre alguma capacidade quando não são utilizadas. Ao deixarmos uma bateria sem ser utilizada durante algum tempo, é possível verificar que ela perdeu alguma da energia armazenada inicialmente. Um problema que pode acabar por acontecer nos casos em que o equipamento vai utilizar uma quantidade muito baixa de energia para se manter a funcionar.

O Center of Advanced Self-Powered Systems of Integrated Sensors and Technologies (ASSIST), na Carolina do Norte, tem-se dedicado à construção de um equipamento para a área da saúde que não precise de baterias mas que seja autossustentável a nível energético. Atualmente já têm um protótipo criado para monitorizar a saúde das pessoas que se consegue alimentar com a energia do calor do corpo.

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Existe ainda uma outra opção que se baseia na simples fricção, a chamada eletricidade estática. O problema deste método é a baixa produção de energia que consegue gerar, mas mesmo assim um grupo de cientistas conseguiu utilizar este método para alimentar uma espécie de um dispositivo wearable que, com uns toques com a mão, consegue gerar alguns watts que alimentam, temporariamente, pequenas luzes.

No entanto, é possível obter mais energia através da fricção do que da diferença de temperaturas, o que, aliado a um material flexível, pode vir a resultar em sensores corporais ou mesmo em sensores implementados em tecido etc.

Para já estas são ainda hipóteses remotas mas são também hipóteses que os cientistas não colocam de lado para conseguirem criar grandes avanços na área da tecnologia e, primeiramente, na área da saúde. Quem sabe se um dia a tecnologia não chega aos smartphones e não passamos a deixar de precisar de utilizar um carregador comum.

Por agora, o mais próximo de um equipamento autossustentável é mesmo o Matrix Watch que começa a ser enviado para os investidores do projeto em setembro. O relógio aproveita o calor corporal para se manter ligado.