Em destaque na 11ª edição da conferência anual da Quidgest, que teve como palco a Fundação Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa, esteve a “primavera” da inteligência artificial, o período de maior investimento em pesquisa e desenvolvimento nesta tecnologia, com especial ênfase numa área sem a qual a empresa acredita que IA não conseguirá progredir: a representação do conhecimento complexo em modelos.

Aliás, nas palavras de João Pedro Carvalho, administrador da empresa, na sessão de abertura do Q-Day 2019, sem a noção da representação do mundo, a IA torna-se em “Artificial Stupidity”, lembrando os perigos reais que existem na utilização deste tipo de tecnologia quando não há uma modelação adequada dos sistemas.

Tal como afirmou Rui Pedro Saraiva, CTO da Caixa Geral de Depósitos, a IA “está a redefinir a tecnologia”, levando alguns especialistas a pensar nos desafios reais que a área enfrenta, à semelhança do enviesamento humano, que pode apresentar um potencial de geração de segregação, relembrando também uma das questões que tem vindo a ser debatida na comunidade: a “singularity”, ou seja, o ponto em que as máquinas superarão a inteligência humana.

Fora dos cenários distópicos, a discussão centrou-se no modo como a IA específica (ou Narrow AI) pode ajudar a transformação digital das estruturas de produção e da sociedade. Para João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Transição Energética, embora a consciência “de que não haverá desenvolvimento se este não for sustentável” estar já a moldar as mentes, ainda há muito por fazer.

De acordo com o ministro do Ambiente e da Transição Energética, a IA “deve ser posta ao serviço da sustentabilidade”, para que se consigam enfrentar de forma mais rápida e eficiente os problemas que o mundo encara atualmente, tal como o desequilíbrio no consumo de recursos naturais, as alterações climáticas e o declínio da biodiversidade, os quais estão a causar “disrupções na economia e na sociedade”.

João Pedro Matos Fernandes defende que a IA pode ajudar na criação de uma “economia circular e regenerativa”, sendo que as áreas da energia, da mobilidade, da agricultura e do sector de resíduos podem beneficiar da aplicação desta tecnologia, tornando-as mais sustentáveis, com vista ao cumprimento do objetivo da neutralidade carbónica.

Já na área empresarial e nas estratégias das organizações, a IA pode também ser uma aliada no que diz respeito a questões de sustentabilidade. Segundo António Jesus, da Thales Portugal, no painel que inaugurou o Q-Day 2019, a aplicação desta tecnologia, por exemplo, na área dos transportes, através de interfaces inteligentes que recorrem a informação personalizada sobre os utilizadores pode não só permitir um aumento da disponibilidade dos serviços públicos, mas também fazer com que estes funcionem de forma mais eficiente.

Mas no atual panorama onde o “frenesim" de dados disponíveis tem um impacto, por vezes prejudicial, nas decisões tomadas pelas empresas, Gonçalo Conde, CEO da Bubblevel Consulting, afirma que é preciso dotar o desenvolvimento de software de mais inteligência, no entanto, sem confiar cegamente nos algoritmos.

O futuro das carreiras de quem trabalha na área do desenvolvimento de software foi outro dos aspectos em discussão no painel composto também por José Luís Ferreira, da Quidgest. Para Gonçalo Conde, os developers tal como os conhecemos hoje “não deixaram de ter sentido hoje, apenas deixaram de ser tão preponderantes”.

Para os membros do painel, contudo, as mudanças trazidas pela aplicação de modelação de software ainda são uma área que precisa de ser melhorada, uma vez que diversas organizações fora do âmbito das tecnologias, “para quem a informática é um custo” de acordo com José Luís Ferreira, ainda não estão preparadas, sendo que o caminho para o futuro passará também pela mudança das mentes dos decisores.